VESTIDA DE DOMINGO
A
oração hoje foi mais longa e a terminei enquanto abria parte das janelas. Hoje
não abri todas nem liguei a música: dia de recolhimento e silêncio. O universo conspira: o mundo se cala, não
porque está chovendo, ao contrário, o dia é de muita luz. Por que é domingo?
Pode ser.
Separo
o que vestir. Vestido leve, clarinho, com flores e renda. Perfume. E chinelos
que não haverá visitas. Desço as escadas tentando não fazer barulho, clep,
clep, em vão, e corro abrir a porta pro cachorro sair; da minha caçula que
pediu ontem pra cuidar, custa nada.
Passo
os olhos pelas plantas: vou trocar o vaso daquele antúrio que já
passou de hora. Cuido do cachorro, das plantas, tomo café e remédios. O vento
está muito forte, silva pelas frestas, balança as pedrinhas do jardim de
inverno. Estranho! Vai levar a chuva embora... ou trazer?
Checo
a comida do dia, ainda há frutas, boto água no filtro de barro. Então, aboletada
na cadeirona do canto predileto da casa, me ponho a cismar: tem um passarinho
cantando longe, mas fora esse, e o barulho do vento, escuto mais nada. Nem a
música liguei. Tao bom o silêncio!
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