segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

SÁBADO

Cinco e quinze da manhã: silêncio, canto de passarinho apressado, rumores distantes de um transito que começa aos poucos. Espreito o clarear através dos vidros da janela, me aconchego ao cobertor: está frio, e não tenho pressa. Há um dia inteiro para fazer tudo que preciso. Devaneio, penso no que é mais urgente, penso na minha mãe, penso em quem vai chegar, em quem vai partir. Preciso podar as roseiras... Mamãe, tenho foto dela com uma rosa, única, Red, plantada em lata de tinta, Mamãe, escorada numa pilastra, usa um vestido de renda azul claro que ela mesma costurou. Ela costurava meus vestidos de menina-moça, daqueles de xadrez com sinhaninhas, camisolas de tergal com bolinhas coloridas e a calcinha franzida combinando...acredita não? Eu usava isso para atravessar a cidade, a Pracinha, a Praça da Prefeitura e chegar ao Cinema, perto da Matriz. E desfilava, contente...Ah, peraí: “que essa paz de cedinho impere no coração dos homens de todos os lugares, que as palavras ditas tenham sempre doçura”: minha oração pra começar o dia, é que meu estômago começou a roncar. 

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