segunda-feira, 25 de abril de 2016

SUSTENTABILIDADE COMEÇA EM CASA

É milenar a filosofia, se é que se pode chamar assim, de o ser humano ter um comportamento, ou discurso, para quando está na rua e outro para quando está dentro de casa.
A primeira coisa que fazemos quando chegamos do mundo lá fora é jogar, literalmente, os sapatos a um canto e relaxar. Relaxar da organização, das regras sociais, das convenções, códigos, leis comuns. Em casa, somos os donos, os imperadores, determinamos nossos destinos, mandamos, comandamos; e ninguém tem nada com isso.
Há um ditado que diz que “por detrás da nossa porta...” tudo é permitido. Nada que fazemos em casa é da conta do vizinho. Em briga de vizinho, faça de conta que não viu! O mundo lá fora é diferente do que vivemos entre nossas paredes; e nós também somos.
Ocorre que são outros tempos, esses que vivemos nas primeiras décadas do século XXI. Aquele sossego que tínhamos de nos esconder atrás de nossos muros, a ilusão de imaginar que nossas ações só dizem respeito a nós mesmos, não existem mais. Mesmo que ainda nos esforcemos para manter a individualidade e a privacidade o mundo bate ruidosamente a nossa porta; e mesmo a contragosto, somos obrigados a atender.
Não são as câmeras de vigilância ou as penalidades por infrações quaisquer que determinam nosso comportamento no mundo contemporâneo. Não é o medo da punição, da multa, ou da fofoca do vizinho, o apontar de dedos para nosso lado que nos impelem a adotar nova filosofia de vida. Nem é porque alguém vai falar mal ou porque seremos repudiados em qualquer grupo que frequentamos que agora temos que pensar, e agir, diferentemente, em qualquer lugar.
O planeta está encolhendo, estamos, a cada dia, mais próximos uns dos outros. E não só de seres humanos, mas de bichos e mato também. E de sujeiras, esgotos, lixo, estamos, a todo minuto, mais perto. Tudo se aproxima de nosso quintal, ultrapassa nossos muros e vem buscar abrigo ao nosso redor: porque não há mais espaço para distâncias.
 O grito do vizinho ecoa na parede onde está nossa cama. O som da festinha da praça avança pela nossa cozinha e almoçamos ouvindo funk ecoando entre os talheres. A buzina na rua parece ter sido acionada da nossa varanda. O telefone toca, ou alguém fala, debaixo de nossa janela. Do nosso quintal, vemos as flores no jardim alheio ou ouvimos segredos inimagináveis; que não deveriam ter nada a ver conosco. Só que tem.
O progresso, a meio caminho, que acredito ainda há muito o que melhorar, trouxe confortos que já nem paramos mais para analisar. A locomoção, a comunicação, o sem número de produtos para satisfazer infindáveis vontades são mudanças das quais nem nos damos conta mais, e que as novas gerações nem sabem que aconteceram.
O que temos hoje, de estilo de vida, entretanto, pode nos dar conforto, sim, mas trás também uma responsabilidade que ainda não foi exigida de fato. A aldeia global, o Planeta Terra, oferece recursos tais que permitem ao homem viver plenamente gozando de suas capacidades física, mental, social, financeira.
A vida moderna é uma conquista de muitos, de fato, mas, como disse Saint Exupéry, “tu te tornas responsável por aquilo que cativas”, logo, todas as conquistas tem um preço; e saber disso, tomar consciência desse preço é uma realidade da qual não é mais possível fugir. Esse preço, que não é para o vizinho ou para o governo pagarem, é responsabilidade nossa: eu, meu vizinho, meu governo; todos estão no mesmo planeta, todos vão dividir a conta. E o que é mais interessante: o preço maior ou menor depende de cada um, o que pagar depende do que fizermos, juntos, pela riqueza natural que nos é dada de bandeja.
Pagar menos depende de atitudes como prevenção, e para isso basta pensar antes sobre os impactos de cada ato humano. Depois, é vital cessar o desperdício: no Brasil, o volume da produção nacional poderia ser 40% maior se não houvesse desperdício em todos os níveis da cadeia produtiva. Já pensando em Economia, haveria de ser equânime o uso dos recursos e serviços da natureza para depois então distribuir os custos por esses serviços.
O afã de consumir deveria vir atrelado ao afã de cuidar do resíduo, daquilo que não serve mais; não só o governo, mas também quem fabricou o produto, e quem o utilizou até não servir mais. Cuidar é para quem se importa, que se mostra, que dá de si sem esperar as cobranças. Comprar menos é cuidar, consertar é cuidar, estudar, se indignar, são atos de quem cuida de algo.
Nesse ano, 2016, a Campanha da Fraternidade da Igreja Católica reza que “Nossa casa comum: responsabilidade de todos”. A prática do nosso dia a dia mostra isso? Hum, sei não!
A vida é boa e temos coisas sem fim para fazê-la melhor ainda; então, cuidemos: da casa, do quintal, do que compramos, do uso adequado dos objetos, do trato certo de pessoas e todos os seres vivos. É já passado da hora que comecemos a reaproveitar, recuperar, reutilizar, e valorizar ao máximo, todas as coisas até o “último cartucho”, como ensina o Mineirês. Assim, ó, você cuida do “nosso Planeta”? Você é sustentável? Tomara que sim porque, hoje em dia, o vizinho está de olho porque não há mais quintais particulares. A vida de todos no futuro depende de cada um, em particular, mas ao mesmo tempo, mistério, de todos juntos, e misturados. É que a “casa é comum”, portanto,  cuidar dela é obrigação intransferível.
Por Magda Castro

Brasília/DF, 25/04/2016