quarta-feira, 24 de março de 2021

MUDAR É PRECISO?

Tudo começou por causa desse computador estragado: já o havia consertado algumas vezes. Por último, o T descolou e não consegui botá-lo de volta no lugar. E vai que o comando de “delete” funciona sem aviso e eu perdia parágrafos inteiros. Voltar à ideia original? Impossível. Isso sem contar que o monitor havia perdido as cores e eu usava um de outro aparelho: costumava chamar o conjunto de “meu Frankenstein”.

Pedi a minha filha do meio pra vigiar as promoções pra comprar um computador novo completo. Ela levou uns dias, mas cumpriu a tarefa. Zerei a poupança, comprei ingredientes prum almoço e juntamos quatro mascarados pra levar a tarefa de mudar os programas a cabo. E inventei de mudar também o cômodo do escritório: me pus a descascar, emassar e lixar paredes. Digo que “mudar” pode permitir a “achar os buracos dos ratos”.

No dia marcado, eu quase terminei uma das paredes. Carregar livros, descartar lembrancinhas desmemoriadas e CDS obsoletos, digo, por falta de aparelho pra tocá-los e montanhas de papeis que perderam totalmente o sentido levou o dia todo. Ainda restam “coisas” em geral separadas ao longo das paredes, uma delas exibindo gloriosos traços de massa-corrida.

Quando a lida maior parou, tranquei a porta de saída depois que os ajudantes partiram pras próprias rotinas, juntei a louça suja na pia, tomei banho muito quente pra aliviar o cansaço e me esparramei na cadeirona velha, que preciso consertar, finalmente, com a intenção de (re)conhecer o lindo aparelho novo. E queria escrever.

Mas, quá, na penumbra da noite caindo, não consegui enxergar os sutis traços brancos sobre teclas negras pra catar letras e símbolos de acentuação: o circunflexo, então, nem hoje o localizei. Optei por assistir a séries que há algumas começadas. O texto, escrevi agora de tarde depois que botei ordem em mais alguns móveis e “coisas”. Terminar a mudança? Ainda demora; e, passar a escrever no teclado novo vai me custar algumas adaptações. Enquanto isso, vou escrevendo, e consertando os erros, no computador antigo; paciência, repito comigo enquanto tranço a casa de cima a baixo: um dia me acostumo.

Ainda não achei buraco de rato; poeira? Montes: vou domando pequenas partes aqui e ali. Estranhamente, essa bagunça toda pra mudar me lembra: mudanças em relacionamentos compensam o “preço” pago? Caso a pensar...