DIA DE SÁBADO
Sábado bonito, o vejo através das persianas semicerradas
enquanto estou espalhada em lençóis limpinhos enrolada numa colcha branca de
piquet. Poderia não me levantar, não quero ou preciso. Apanho o celular e
respondo às mensagens de ontem, as de hoje e mando outras para amigos
cotidianos, aqueles que se lembram de mim todas as manhãs e aqueles dos quais
me lembro em todas as manhãs, ou pelo dia afora.
Já não é tão cedo; o cheiro de café alcançou meu
quarto e olho as horas: 08:06. Passo uma pincelada de pensamento revivendo a
semana, o mês passado e até além distante no tempo. Me lembro, com ligeiro
calor no peito e um riso calado, da ligação que recebi ontem à noite:
personagem de minha história, belas lembranças. Uma conversa pontuada de
alegria, emoção, falamos de momentos vividos com sinceridade, intervalos entre
vidas atribuladas e destinos cerrados. Pessoa linda e inteligente que fez parte
do caminho que percorri e que volta agora no simples alerta de um telefone. Um
passado que vem se encontrar com o presente com gratidão. Pessoa querida que
estava por perto quando eu cumpria promessas e não pude tocar; pessoa especial
que já não está ao alcance de meu carinho: cumpre promessas que não fez a mim.
Falamos dessas circunstancias de desencontro e acabamos rindo delas, rimos mesmo,
eu como há muito não fazia, afinal, tivemos chance, breve, sim, e a vivemos
enquanto foi possível, somos gratos, portanto, sei disso por você e por mim.
“Estou indo para uma festa, você poderá vir?”. “Ah,
não, não irei.” ”Podemos ser amigos”. Eu, rindo e emocionada com a
possibilidade de ver de novo alguém tão querido: “Não, já decidi que não quero
ser sua amiga. Não quero ficar espreitando calada a felicidade alheia. Não
preciso disso mais, não passarei mais por isso. Vamos deixar a nossa história
como está: linda! Você tomou sua decisão, sustente-a agora, vai ser bom pra
você. Se cuide”. “Você tem razão”, foi a resposta. “Se cuide”. “Se cuide”.
“Beijo”. “Beijo.”
Daí, não resisto ao cheiro do café, afinal, é sábado
e o sol estrala mamona lá fora.
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