segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

 DIA DE SÁBADO

Sábado bonito, o vejo através das persianas semicerradas enquanto estou espalhada em lençóis limpinhos enrolada numa colcha branca de piquet. Poderia não me levantar, não quero ou preciso. Apanho o celular e respondo às mensagens de ontem, as de hoje e mando outras para amigos cotidianos, aqueles que se lembram de mim todas as manhãs e aqueles dos quais me lembro em todas as manhãs, ou pelo dia afora.

Já não é tão cedo; o cheiro de café alcançou meu quarto e olho as horas: 08:06. Passo uma pincelada de pensamento revivendo a semana, o mês passado e até além distante no tempo. Me lembro, com ligeiro calor no peito e um riso calado, da ligação que recebi ontem à noite: personagem de minha história, belas lembranças. Uma conversa pontuada de alegria, emoção, falamos de momentos vividos com sinceridade, intervalos entre vidas atribuladas e destinos cerrados. Pessoa linda e inteligente que fez parte do caminho que percorri e que volta agora no simples alerta de um telefone. Um passado que vem se encontrar com o presente com gratidão. Pessoa querida que estava por perto quando eu cumpria promessas e não pude tocar; pessoa especial que já não está ao alcance de meu carinho: cumpre promessas que não fez a mim. Falamos dessas circunstancias de desencontro e acabamos rindo delas, rimos mesmo, eu como há muito não fazia, afinal, tivemos chance, breve, sim, e a vivemos enquanto foi possível, somos gratos, portanto, sei disso por você e por mim.

“Estou indo para uma festa, você poderá vir?”. “Ah, não, não irei.” ”Podemos ser amigos”. Eu, rindo e emocionada com a possibilidade de ver de novo alguém tão querido: “Não, já decidi que não quero ser sua amiga. Não quero ficar espreitando calada a felicidade alheia. Não preciso disso mais, não passarei mais por isso. Vamos deixar a nossa história como está: linda! Você tomou sua decisão, sustente-a agora, vai ser bom pra você. Se cuide”. “Você tem razão”, foi a resposta. “Se cuide”. “Se cuide”. “Beijo”. “Beijo.”

Daí, não resisto ao cheiro do café, afinal, é sábado e o sol estrala mamona lá fora.

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