segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

 

COME CLOSER TO ME/SE ACERCA DE MIM

Enquanto a panela de pressão chiava a todo vapor, eu fazia de conta que dançava pelo chão branco da copa/cozinha ouvindo Ben E. King. Vez ou outra bebericava numa taça de Martini dry.  “Indo”, foi a última mensagem... eu encarava, a cada rodopio, os vidros da parede dos fundos estralando de luz da tarde de inverno. Chegou... não...chegou? Não.

Chegou. Como sempre, fazendo bagunça, buzinando, brincando. “Cheirosa”, eu disse ao abraçá-la enquanto descobria que tinha derramado feijão no vestido azul. “Nem estou com muita forme, comi uma tapioca pelo meio-dia...” ”Não comeu cedo, né?”

“Feijão e arroz nas panelas no fogão, o cozido vou botar na mesa, gosta de costela de boi?” “Não muito...” Experimentou, encheu o prato. “Coma à vontade. Se preciso, faço de novo pra sua irmã... já mandou duas mensagens pedindo pra guardar pra ela“.

Comeu, comeu, apelou: empurrou o próprio prato, puxou a tigela pro meio do peito, empunhou a colher de arroz e mergulhou no caldo com legumes...” Isso tá muito bom!!!”, repetia, de boca cheia. Se eu estava rindo é piada...

Resultado: a panela de pressão voltou ao trabalho... e eu, vigiando pacientemente, fazer o quê, botei de novo o Ben E King pra cantar... O sol da tarde de inverno já se arrastava baixinho, mesmo assim, ainda inundava de luz tudo ao redor. Menina malcriada, sempre foi assim, meu coração feliz repetia.

Brasília, DF, 30 de junho de 2018.

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