quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

OUTRO LADO DA PALAVRA ESCRITA OU FALADA, OU O MESMO

Sobre escrever textos se sabe muitas coisas e uma delas é que tudo que é escrito fica guardado, quem sabe, atrevidamente, para sempre. Escrevo cotidianos, minúcias, pequenices que me encantam. Conto de meu canto, dos meus causos, dos meus contos. Nada grandioso nem visto a olho nu, ou a coração nu, digo melhor. Gosto de escrever sobre o café da manhã, o almoço, falo da chegada ou da partida, de flores se abrindo, ah, como gosto de escrever de flores. Gosto de contar histórias, prefiro as verdadeiras porque não tenho grande imaginação de inventar histórias falsas. Mas gostaria de escrever o outro Harry Potter, apesar que estava pensando dias atrás que a literatura tem isso de recriação: textos eternos que muitas vezes jazem em prateleiras poeirentas são descobertos por alguém com imaginação bastante criar dali um mundo novo. Acho por isso a literatura eterniza a vida.

Bom demais saber de gente que viveu há milhares de anos e foi feliz o bastante pra pensar em registrar a própria história e essa agora está aí encantando, ou desencantando, pessoas de toda parte. Acho que por isso todos nós podíamos escrever sobre nossas vidas. Há alguns anos, limpando um guarda-roupas de minha mãe que tinha sido de minha avó descobri uma folha de papel amarelado. Me surpreendi com a biografia de minha avó escrita por ela mesma em estilo trôpego escolar. Uai, não era propriamente biografia já que o texto todo mal ocupava metade da página, mas trazia os dados de local e data de nascimento, nomes dos pais, nome dos filhos e endereço da época. Amei ler, guardei a relíquia com carinho e vez ou outra releio pra me lembrar dos que viveram antes de mim e que por isso vivo hoje. Então, escrevo dessas desimportâncias até pensando que uma pessoa qualquer no futuro leria sobre elas.

Escrever, ou contar histórias, sobre minha vida, estranhamente, me dá a sensação de dizer de um olhar tão meu e, penso que, talvez, esteja contribuindo ou partilhando importâncias. Se importante ou não para o que me lê, ou ouve, não sei ao certo, mas para mim é delícia quando releio o escrito há anos. Isso é o que queria dizer sobre o valor da palavra escrita: dizem de pequenas histórias sem importância que se escreve sobre aspecto ou outro sem importância. Ocorre que relendo meus textos descubro que o valor da desimportância daqueles tempos tem importância sem medida hoje. Para mim, especialmente, mas quem sabe, importante também para alguém que esteve entre os personagens daquele tempo tão tão distante.

Magda Castro

Brasília, DF, 23 de fevereiro de 2023.