terça-feira, 22 de outubro de 2024

 AO ROMPER DA MANHÃ

Percebi o silêncio quando o tic tac do relógio de parede ficou alto demais. Eu já tinha aberto janelas e prescrutado o céu tão azul inteiro de luz do sol. Caprichei na xicrona de café: o dia 'tava lindo sem conta. 

Os sons da rua estavam ainda sonolentos quando ouvi a geladeira ronronar... Ah, as pedrinhas do jardim de inverno anunciavam, o quê? chuvas mais tarde, boas novas chegando? Ah, canto de passarinhos, trinados vindos lá de fora. 

Vi que que mesmo que houvesse barulhos aqui e ali, tudo estava espetacularmente em silêncio.  Me aquietei, fechei suavemente os olhos. Por quê? Foi ai que senti as batidas do meu coração, tão fortes que podiam doer? O que está acontecendo? Respirei devagar seguindo as batidas. Por quê?  

Fiquei por alguns momentos segurando a xícara e apenas sentindo. Foi ai que descobri que havia chegado onde quis por muito tempo: o lugar em que posso ouvir silêncios é meu coração. 

Por Magda Castro

Brasília, DF, 22 de outubro de 2024.

domingo, 20 de outubro de 2024

REMINISCÊNCIAS EM DIA DE CHUVA
É nova estação. Há quase um mês, é primavera, entretanto, nova estação pode-se considerar agora com a chegada das chuvas. Nem acreditei: nesse ano não tivemos a chuva refrescante da floração para só mais tarde chover todo dia, então, quando a chuvinha fina caiu em meados de outubro achei que não se firmaria. Passa de mais de semana que o tempo refrescou e os avisos de humidade relativa do ar desapareceram; esses agora são para chuvas intensas ou tempestades. 
Observo que a cada ano o clima nos prega peças às vezes divertidas às vezes desagradáveis. Quando caminho pelas ruas perto fico feliz de ver que mangas despencam em galhos quase granadas e eram sobremesa de janeiros. Também as flores vieram mesmo sem chuva e enfrentando galhardamente a secura. Fiz um esforço extra pra dar a cada uma a medida certa de água mas falhei com uma ou duas: o alecrim mesmo, pequena árvore verdejante e cheirosa apodreceu e só descobri que estava doente quando as folhas amarelaram. Assustada, revolvi a terra do vaso e rezei por um da de sol quente. Ironia, nem há tanto tempo assim que  rezei por chuviscos. E o alecrim morreu. Hoje cedo catei com cuidado a erva seca e a coloquei em saquinhos, gosto muito no peixe.
Por causa do alecrim, cuidei de cada vazo, podei, catei pragas, retirei as bandejas, troquei de lugar pra pegarem o olho de sol que despontava tímido.
Ironia, digo, quando temos tanto de qualquer coisa mal sabemos aproveitar; quando falta algo lá vamos nós inventando preces pra que tudo mude. A alma humana é insaciável e ainda nos metemos a controlar as coisas do mundo como se esse fosse apenas nosso. Tentativa boba, e vã.

Por
Magda Castro
Outubro de2024