segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

TARDES

Falo muito de manhãs iluminadas, de dias em começos. Bom que só, cheia de expectativas pelos milagres que viverei. Gosto muito também dos afãs das “voltas de meio-dia” quando não paro pra ver o que está bom ou nem tanto. Vou vivendo o que tenho que viver e o dia vai acontecendo assim, eu, de roldão, quase empurrada.

Quem vê pensa que não, mas gosto muito também de tardes. Os dias desmaiando, expectativas descansando, doçuras de coisas feitas com tudo o que tinha que ser feito. Nessa hora, quando as horas não precisam mais ser vigiadas, gosto de ir fechando janelas uma aqui outra ali, trancando portas, botando o lixo na rua; e cuido de novo daquela mudinha de flor.

Nas tardes, vou guardando a louça usada, a roupa enxuta, os restos de comida; e esperanças. A vez de banho, vestido largão, pês no chão limpinho... estendo a colcha na cama, ajeito os travesseiros. Espreito pela veneziana entreaberta, às escondidas, o sol fazer a curva do céu sumindo por detrás das mangueiras gigantes. “Esse ano não foi de tanta fartura como no ano passado”...mas “tem ‘portância não, vem outro ano aí que vai ser bom”.

Fecho devagarinho a persiana, os sons amenizam, me volto para a penumbra de minha ilha agora fora do mundo. “Ah, obrigada, Senhor, pelo dia bom”, resmungo pras paredes caladas enquanto faço o sinal da cruz. 

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