quinta-feira, 1 de abril de 2021

 

CENAS DE RUA

Domingo cedo de imprevisto solão mesmo não sendo mais verão. É outono, de comecinho, ainda chove, menos sim ainda há chuvas, mas o sol chegou pra estourar mamonas. Foi perscrutando o céu pra ver se havia nuvens porque dependendo de haver ou não eu decidiria o que fazer do dia que cismei por alguns minutos escondida detrás da persiana aberta discretamente.

O portão da casa da frente foi aberto e se segue algazarra de pessoas discutindo o caminho pra pista de ciclista no Sudoeste. Um casal e uma garota, ouvi os adultos chamando Heloisa. Nome lindo demais, heroína de romance e bela também a menina. Treze anos? Falando Mamãe e Papai como se tivesse deliciando a doçura do mundo rindo da mãe embaraçada com o guidom da bicicleta, a mocinha pedala com ares de bem entendida. O homem se aproxima segurando a própria bicicleta acalmando a mulher ajeitando o acento. “Experimenta agora, vê se melhorou”.

A mulher de roupa preta bem justa se encarapita e sai pedalando pelos dois lados da pista; aposto que cai, não caiu. A menina ri cristalinamente. O homem espera que as duas mulheres avancem na frente e as segue decidido. Fico olhando os três desaparecerem no fim da rua enquanto as risadas vão virando sussurros.

Ao abrir a janela, finalmente, ouvi outras vozes. Uma criança? Aparecem no meu campo de visão, um garoto montado em bicicletinha e uma mulher de sombrinha protegendo o menino que resmungava do arranjo. “Tem que ser assim, o sol está quente demais!” Comecei a rir sozinha: o dia mal começara e já havia me deparado com tais cenas: de bicicletas, de gente e de amor; do que senti o dia seria.

Magda Castro

Brasília, DF, 1 de abril de 2021.