PERDOE-ME
Perdoe-me porque você me traiu. Você, logo você com quem
dividi comida e abrigo, e sonhos, pra quem contei segredos. E ouvi segredos,
perdão porque os guardei no fundo do coração, sagrados que são os seus para
mim; e não os revelarei nem mesmo sob tortura.
Perdão porque me distrai de nós dois e deixei que vozes de
maldade chegassem aos seus ouvidos; e porque não lhe expliquei meus motivos.
Devia, devia ter quebrado a barreira de seu castelo e invadido para lhe
explicar por que. Perdão porque me calei quando, surpresa, vi que seu olhar não
me via. Eu devia ter me descabelado, corrido nua pela rua, chamado a polícia,
sei lá, devia. Ter feito você me ouvir, ter aberto uma estrada com meu
desespero para que você soubesse. Perdão por ter me refugiado na minha dor, e
chorado em bicas em noites estreladas, por ter visto você me odiar aos
pouquinhos, e eu, quieta, com medo de piorar tudo. Perdão por não ter lhe dito
que entenderia qualquer coisa que quisesse me dizer, qualquer verdade sangrenta
seria mais doce que o ódio que você vi nos
seus olhos da última vez; e permitir que você visse em mim algo que não era eu.
Eu devia ter gritado e chorado mais ainda.
Perdoe-me por ter deixado você me trair.
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