segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

 MEMÓRIAS ESQUECIDAS

Uma das lições que recebi por último foi que podemos mudar nossos sonhos. Teve um que morou no meu coração por anos: morar numa casinha sem varanda com a porta dando direto pra chão de terra. Um trilho que me levaria a um jardim/horta bem pertinho. Tão pertinho que eu o admiraria todas as manhãs quando abrisse a primeira janela. Daí o dia se estenderia infinitamente. Dessa janela, também veria o céu, as estrelas de noite, o horizonte longe. Amanhecendo, eu sairia pro “tempo” e andaria sobre chão fresco de orvalho ouvindo todo tipo de passarinho.

Esse sonho se transformou nisso: sonho. Mesmo que eu tenha tentado realizá-lo um dia, desisti dele. Decisões equivocadas, sei lá, desisti.

O bom é que sonhar se pode sempre. Arranjei outro sonho: morar numa casa gostosa com todo conforto moderno, e ter um jardim/horta bem pertinho, num terraço que abro todas as manhãs de onde vejo o céu e um monte de telhados, e dou bom dia aos pardais nos fios de eletricidade. Ontem ouvi um bem-te-vi; o vizinho, Sr. Nicanor, disse que tem uma coruja morando no muro dele.

Não tenho sonhos assim, esse eu o vivo. E tenho muitas outras coisas pras quais eu nem ligava antes: carro na garagem, casão na capital, telefone celular que faz tantas coisas que nem sei, Internet, blogs, Word, viagens, passeios em shoppings. Agora quando me canso, me recolho à quietude desse canto que nunca saiu do lugar. Eu, sim, rodei mundo, fugi, quis me transformar em poeira; não consegui, não se consegue tudo que se quer, acho. Mesmo assim, me recolho contente a esse sonho que não sonhei, ganhei sem muito querer, e por fim, escolhi. Não vivo o sonho que sonhei, vivo um que não sonhei, mesmo assim, o sonho que vivo agora o vivo de coração leve e faceiro.

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