sexta-feira, 25 de setembro de 2015

VARAIS

VARAIS
É muita coisa boa junto para um só dia: domingo, verão, sol depois de chuva... e Natal. O Natal genuíno, daquele de reunir pessoas da gente, de comer um pouco de cada coisa boa que cada um sabe fazer. É; esse domingo só não está perfeito porque a netinha está com uma febre sem fundamento e é no caminho para buscá-la, e à mãe, no hospital é que me deixo inebriar pela sensação de tal manhã. Brasília é irresistível depois de dias de chuva sendo substituídos por um ensolarado desses. Tudo parece brilhar mais, mais limpo, mais puro. Ah, esse ar daqui é puro mesmo. Não me canso de admirar os canteiros verdes e as árvores de todo jeito que vão passando na medida em que vou avançando pelas avenidas abundantes. Abundante quase tanto quanto a ceia de ontem à noite. A mesa enfeitada de velas brancas queimando em pequenos cachepôs de vidro colorido. As toalhas branca e vermelha em diagonal, a mesa encostada no canto indicando que a casa está em festa, as cadeiras acompanhando as paredes como se tivessem que se encostar para assistir à alegria. A oração de agradecimento num círculo de mãos entrelaçadas de corações em paz, de fé e esperança, tudo tão bom! Faltou gente, claro, o mundo é grande e cada um busca o que lhe faz feliz, mas quem estava ali, na pequena copa, estava bem. A troca de presentes foi um poço de risadas com minha nora, só tenho uma penso nisso agora, vestida de ‘papai noel’. Não podia ser ‘mamãe Noel’ porque a ideia era dar à pequenina da casa, a neta caçula, um presente especial. É que pelos dias anteriores ela aprendeu a falar Papai Noel, com dificuldade, mas ainda não tinha visto um. A correria de fim de ano, inescapável, não deixou que ela fosse ao encontro do velhinho para abraçar o aconchego gorducho. Então, a roupa vermelha e a barba falsa saíram do armário. Perto da árvore de Natal, já desgrenhada, a pobre moça, o Papai Noel distribuía surpresas. A cada novo embrulho entregue à pequena menina, ela arremedava com sua vozinha de dois anos completados há quatro dias: ‘bigadu, Papai Noel!’. A gente ria que só. E os presentes pareciam ser encomendados sob medida: em cada embrulho rasgado rapidamente, uma surpresa; não pelo preço, mas pelo cuidado com que cada lembrança foi escolhida, pelo carinho que os papeis coloridos pareciam tornar real... Depois da oração, a ceia foi farta, delícias que cada um fez com o que tinha de maior talento; foi o que combinamos. E a mesa quase não coube tanta maravilha! E que Deus permita que todos os seres vivos tenham dias assim. E dias como esse de domingo, manhã de sol, verão, tudo lavado de muita chuva benfazeja, Natal. E Brasília. A vida é tão boa em Brasília! Imaginem a facilidade de secar roupas, montes delas; é que na casa habitam nove pessoas e uma cadela. A gente lava, lava, lava; esfrega, esfrega, esfrega; cozinha, cozinha, cozinha... gente na sala, nos quartos, na cozinha, na copa... Lugar predileto, a copa. Nela, no dia a dia, tem à mesa, café com creme, bolo de milho, pão de queijo. Nas panelas muitas vezes temos frango com quiabo, as tapiocas de todo sabor, feijão borbulhante... huummm!! Nessa farta noite de ceia de Natal tinha pernil, peru, defumados, arroz com amêndoas, farofa de linguiça, delícia mesmo com a farinha errada: de milho ao invés de farinha de mandioca. Salada especial com molho de mostarda e mel, frutas lindas e doces, o abacaxi estava de dar nós na língua, tanto doce. Deliciosas também estavam a mousse de chocolate e a de limão, mesmo azeda que só, a torta de biscoitos lindamente enfeitada com chantilli e nozes! Vida boa demais! Penso tudo isso enquanto estendo as roupas cheirosas pelos varais do terraço debaixo de um sol de rachar mamona. Delícia de sol, penso, um abraço inteiro dele; energia tão boa para animar a fazer tanta coisa! Tanta coisa boa! Por Magda R M de Castro Brasília, DF, 25 de dezembro de 2011.