sexta-feira, 8 de maio de 2009

MÃE, BICHO ESQUISITO

Mãe é uma coisa esquisita:
Não tem personalidade,
Não tem gosto próprio,
Não tem sonho próprio.

Mãe é uma coisa estranha:
Vira móvel
Vira cabide
Vira sábia
Virá intrometida
Vira chata
E vai virando, virando, revirando.

Revira a terra, os céus e mares,
Revira o estômago, os olhares,
Revira a mesa , o armário de roupas,
E vira de novo:
vira bruxa, faxineira, cozinheira
lavadeira, passadeira, rezadeira, parteira...

Mãe não se explica: ou se é mãe ou se tem mãe.
Mãe todo mundo tem, diferente de pai.
Aí ela é pai também.

Mãe não tem sentimentos:
Chora se o filho chora, aí muito mais,
E ri se o filho ri, aí demais também.

Mãe não tem vida própria,
Só quando sobrar do tempo
que leva para cuidar do mundo.
Nem pede coisas, é só: isso para filho, isso para filha

Mãe não tem nome: é “Maiê!”
Não é profissão, quem paga uma mãe?
E ela cobraria?
Quem já viu isso?
É claro que é de graça!

Sim, talvez essa a definição: graça
De graciosa de gracinha de abençoada.
Isso mãe é: por sua eterna abnegação.

Mãe é sagrada.
E dela não se exige a menor explicação.
Só uma mãe sabe como e porque faz tudo que faz,
Será que faz por ela?
Ela guarda, só ela sabe, de tudo a razão.

Mãe é bicho esquisito.

Magda R M de Castro
Brasília, DF, 08 de maio de 2009.

AMANHECENDO

É assim que me acha o dia, assim...
Aliás, nem estou... acordada.
Continua, a minh’alma estirada no leito,
da noite – escura, claro – que passei lembrando...

Amanheci – porque se amanhece ou se morre;
Mas não viva, e não morri, ainda
Respiro, vejo, sinto, calor e mais, frio
Dentro, correntes ventando
pelas minhas concavidades, gelando...
Amanheci porque amanhece mesmo,
mas não acordei mesmo tentando,
respirando,
buscando
Porque dói, buscar
o ar para respirar
Tem você demais nele.

Não quero,
Pensar ainda, ainda, ainda?
Tanto tempo...
Inútil, nada mudou
Não sofre... não é bem assim...
Ninguém disse
sabem que de mentira
eu saberia.
Eu sei; sempre soube.
Só não me peçam para aceitar:
a dor fica maior que eu...

Desistir? Quem dera!!
E porque está assim?
Não sei fazer diferente...
E esquecer? Não, mesmo cansando de lembrar.
E continua amanhecendo?
Sim, só...
Saia por aí, ame de novo.
Ah! Não! É meu coração quem manda.
Então quer voltar?
Não... não vim até aqui para desistir.
Então, sustenta.
Sustento... mas amanheço, mesmo, assim.

Por
Magda R M de Castro
Brasília, DF, 18 de março de 2009.