segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

 SACUDINDO A POEIRA

Hoje acordei pensando no quanto é difícil se recuperar de uma porretada. Achava ser fácil quando observava o esforço de alguém fazendo isso, buscando uma saída. De longe não se vê lágrimas ou gotas de suor, nos outros. Então, levei uma porretada, melhor algumas. Na primeira, me ergui rapidamente, sacudi a areia e segui o sol. Na segunda, já sentia mais medo e tinha mais dúvidas, custei a colocar os pés de volta na estrada, mas um dia de chuva redentora me salvou. Na terceira, me desintegrei em minúsculos pontos pairando sobre o mundo: “o que mesmo estou fazendo aqui?” Na quarta paulada, ah, bem, não vou conta-las mais, o sopro impiedoso de algum grande amigo espalhou as partículas através do universo: deixei de existir. O milagre foi que uma ou duas almas iluminadas insistiram em juntar os pequenos pontos tremulantes. E hoje acordo num quarto limpo, completo, numa cama macia, quentinha nessa manhã de chuva indecisa. Posso receber um beijo a qualquer momento, uma mensagem de bom dia, tomar um café em boa companhia. Bem, se acordei pensando, ainda existo.

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