SACUDINDO A POEIRA
Hoje acordei pensando no quanto é difícil se recuperar de
uma porretada. Achava ser fácil quando observava o esforço de alguém fazendo
isso, buscando uma saída. De longe não se vê lágrimas ou gotas de suor, nos
outros. Então, levei uma porretada, melhor algumas. Na primeira, me ergui
rapidamente, sacudi a areia e segui o sol. Na segunda, já sentia mais medo e
tinha mais dúvidas, custei a colocar os pés de volta na estrada, mas um dia de
chuva redentora me salvou. Na terceira, me desintegrei em minúsculos pontos
pairando sobre o mundo: “o que mesmo estou fazendo aqui?” Na quarta paulada,
ah, bem, não vou conta-las mais, o sopro impiedoso de algum grande amigo
espalhou as partículas através do universo: deixei de existir. O milagre foi
que uma ou duas almas iluminadas insistiram em juntar os pequenos pontos
tremulantes. E hoje acordo num quarto limpo, completo, numa cama macia,
quentinha nessa manhã de chuva indecisa. Posso receber um beijo a qualquer
momento, uma mensagem de bom dia, tomar um café em boa companhia. Bem, se
acordei pensando, ainda existo.
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