quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

DA DOR

Não costumo falar de dor, tantas todos temos acho perda de tempo como não conheço vocabulário pra falar apropriadamente dela. É que em tempos de, meu coração só consegue ficar em slow motion, respiro devagarinho, me aquieto num canto esperando passar. Quanto mais dói, mais muda fico. Desligo músicas, me envolve em meus braços, fecho olhos. Me coloco em modo semimorta ou em casos mais dolorosos ou choro em potes ou me calo dolosamente. Se me veem quieta, calada, o riso disfarçado, está doendo. Se me perguntar talvez eu confesse ou fale de outra coisa.

Entretanto, em eventos insuportáveis poderei soluçar e se achar, aceito um braço. Do tipo calado também, caridoso o bastante pra me ouvir repetir o mantra que me maltrata. Possivelmente isso acontecerá uma vez, duas no máximo, porque de outra vez que doer a mesma dor eu já terei me acostumado com ela e continuarei sendo eu quietinha num canto suportando até passar. Porque não conheço palavras para descrevê-las. E tal conhecimento dispenso.

Brasília, DF, 06 de fevereiro de 2025.

domingo, 2 de fevereiro de 2025

DOMINGOs

Dias de domingo sempre me encantam, me fazem alegre. Foi pensando a respeito do porque que talvez tenha encontrado a explicação. Pensando lembranças, memórias caríssimas, doces e ainda mais que nessa semana passada um dos queridos sobrinhos enviou fotos antigas dos meus pais. 

Algumas não conhecia como a foto de meu pai de barba e chapéu; imagina um homem lindo, o olhar redondo num rosto perfeito de sobrancelhas grossas desenhadas. Jovem belo, inacreditável o meu pai jovem, charmoso e encantador. O pai que furava as tampinhas de guaraná e me aconchegava ao colo aos domingos quando chegava de suas aventuras e me brindava com presença rara. Uma menina sardenta de boca grande virava princesa nos braços daquele homem misterioso, etéreo. Assim era a presença de meu pai, etérea, em dias iluminados e um dragão raivoso em noites intermináveis. Eu ouvia meus pais do outro lado da parede e a dubiedade de sentimentos, confusão, medo até, marcavam meu despertar na manhã seguinte numa realidade impregnada de incredibilidade  e horror.

Incontáveis anos de alegrias e tragédias. mesmo assim gosto dos domingos...


Brasília, DF, 02 de fevereiro de 2025.