segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

SEDUÇÃO

Flores de um tipo que nunca vi: pétalas como folhas, redondas, verdes, se espalhando entre as hastes novas: nasceram às pencas num vaso delicadamente pintado a mão. Muitas hastes, as pétalas/folhas se sobrepondo. Chamei você para mostrar que falava com alguém não respondeu.

Toquei as pétalas e, quão rápido se transformaram em triângulos rosáceos apontando pro céu! Tocaram a companhia, entregaram as chaves; disse que ia passá-las pra você. Caminhei sobre o piso acinzentado e toquei seu braço. Você se virou sem me ver, balancei as chaves. Quando estendeu a sua, minha mão lhe tocou a palma; apenas por um segundo.

Sem identificar muito bem o que senti, fui me sentar numa poltrona de veludo verde sob a luz do teto de vidro. “Flores estranhas!”. As pessoas continuaram conversando. Não vi quando você veio. Tocou levemente uma ponta de meus cabelos, sentou-se no braço da poltrona. Eu podia sentir o calor passando pela camisa branca, o cheiro; podia ouvir o coração. O seu. E o meu.

“Flores estranhas...” 

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