DE
GUARDIÃ DE MEMÓRIAS OU DOS HÁBITOS DOS MOSQUITOS
Das
coisas que venho refletindo, já que ainda penso, é no
que me tornei. Uma senhora aposentada, sem nenhum compromisso imediato sobre o
que nunca perdi tempo sequer imaginando. Qual é
o meu papel no mundo agora? Profissional produtiva.. não mais...mulher, mais
que nunca...mãe, sempre. Não mais esse mãe no sentido de cuidar de menino
pequeno. Porque não é mais cuidar. é vigiar de longe, torcendo de corpo e alma, pra dar
certo. Se cumpri corretamente minha obrigação de educar pro mundo, meus filhos,
isso fiz com tudo que eu tinha, então, agora é confiar neles.
Então,
nessa manhã singular de mundo lavado, a
chuva de ontem foi digna do nome, quando acordo cedinho, abro as janelas pro céu
azul, pro universo que acorda com brisa fresca e passarinho cantando, faço café,
boto pão de queijo no forno, me sento no meu canto na mesa da copa e me ponho a
descobrir meu novo papel no mundo. Ah... e um mosquito sobrevoa a toalha branca,
os vidros de biscoito, as frutas na travessa branca de porcelana decorada com
flores azuis que era da minha mãe...
Os
mosquitos daqui de casa sentam praça: escolhem onde morar e por mais que eu os
espante, eles voltam pro mesmo lugar. E não morrem com inseticida de supermercado:
mais valem panos de prato e palmas estraladas. Os espanto na maioria das vezes,
mas me distraio e eles voltam...
Mas
sobre meu papel no mundo, está decidido: sou guardiã de memórias. Guardo caixas
e pacotes delas pelos armários e gavetas da casa. Fora os ecos no meu coração
que os levo aonde vou, as lembranças físicas de cada um, dois, três, quatro,
cinco, e minhas, aguardam caladas até que os legítimos donos as venham
resgatar. Enquanto isso não acontece, preparo com capricho meu café da manhã .
Aliás, o timer do forno acabou de
avisar que o pão de queijo está pronto.
Brasília,
DF, 21 de outubro de 2018.
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