segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

 

DE GUARDIÃ DE MEMÓRIAS OU DOS HÁBITOS DOS MOSQUITOS

Das coisas que venho refletindo, já que ainda penso, é no que me tornei. Uma senhora aposentada, sem nenhum compromisso imediato sobre o que nunca perdi tempo sequer imaginando. Qual é o meu papel no mundo agora? Profissional produtiva.. não mais...mulher, mais que nunca...mãe, sempre. Não mais esse mãe no sentido de cuidar de menino pequeno. Porque não é mais cuidar. é vigiar de longe, torcendo de corpo e alma, pra dar certo. Se cumpri corretamente minha obrigação de educar pro mundo, meus filhos, isso fiz com tudo que eu tinha, então, agora é confiar neles.

Então, nessa manhã  singular de mundo lavado, a chuva de ontem foi digna do nome, quando acordo cedinho, abro as janelas pro céu azul, pro universo que acorda com brisa fresca e passarinho cantando, faço café, boto pão de queijo no forno, me sento no meu canto na mesa da copa e me ponho a descobrir meu novo papel no mundo. Ah... e um mosquito sobrevoa a toalha branca, os vidros de biscoito, as frutas na travessa branca de porcelana decorada com flores azuis que era da minha mãe...

Os mosquitos daqui de casa sentam praça: escolhem onde morar e por mais que eu os espante, eles voltam pro mesmo lugar. E não morrem com inseticida de supermercado: mais valem panos de prato e palmas estraladas. Os espanto na maioria das vezes, mas me distraio e eles voltam...

Mas sobre meu papel no mundo, está decidido: sou guardiã de memórias. Guardo caixas e pacotes delas pelos armários e gavetas da casa. Fora os ecos no meu coração que os levo aonde vou, as lembranças físicas de cada um, dois, três, quatro, cinco, e minhas, aguardam caladas até que os legítimos donos as venham resgatar. Enquanto isso não acontece, preparo com capricho meu café da manhã . Aliás, o timer do forno acabou de avisar que o pão de queijo está  pronto.

 

Brasília, DF, 21 de outubro de 2018.

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