segunda-feira, 23 de junho de 2008

SER MÃE NO SÉCULO XXI

É assustador. Talvez fosse assim sempre, mas no mundo de hoje é profundamente assustador ter filhos. Talvez seja em razão das notícias que ficamos sabendo, mas muito mais pelas que não ficamos sabendo, pois, isso sim sabemos: há coisas que andam por aí acontecendo que não conseguimos alcançar. Não é um complexo de deusa que ataca não, de pensar que se pode estar em muitos lugares ao mesmo tempo para proteger as ninhadas dos perigos explícitos e implícitos, não; é a consciência de que os falsos valores, as falsas amizades, os falsos amigos, e a pior delas, a maldade, essa tamanha que nem se preocupa em ser falsa, estão ao redor. Tudo isso está misturado aos nossos filhos, disso nossos corações sabem, e como! e torcemos para que tenham forças para resistir. E, uma vez hoje, outra amanhã fazem isso, e vemos, com alívio, um certo dia, que conseguiram resistir, mesmo que anos depois nos confessem que em determinada data ou lugar fizeram isso ou aquilo para experimentar e decidiram que não gostaram. E se salvaram.
Só que nem todos se salvam. Há os que se perdem, apesar de também terem tido mães dedicadas, apesar de que nem sempre, mas muitos tiveram sim, família, escola, guias, mas fracassaram. Num minuto de distração, naquele pequeno espaço de tempo que não se estava por perto, se perde a batalha. Vemos isso todo dia, sabemos disso sempre, sofremos isso em nossas famílias ou em famílias muito próximas. E vemos filhos de mãe amorosas se perderem.
Essa é a razão do susto: o que não fizemos para salvá-los? Como uma espiral de aço, o pensamento dá voltas pelos mais ínfimos detalhes do que se viveu, na busca de explicação. Onde errei? Onde falhei? Não há resposta que alivie, não há ajuda profissional, não há sábios ou religiões que esclareçam. Podem mitigar a dor da perda, do fracasso, da sensação de inutilidade e incompetência. Mitigam, mas não explicam, não impedem o sofrimento, e não nos permitem voltar para refazer.
O que temos, então, que fazer? Esse é um mundo veloz, fátuo, imediato. Tamanha é a velocidade dos quereres, que as mães se transformam em mil e uma na ânsia de atender cada desejo ou necessidade, só que não são infalíveis. Falham. Muitas vezes, até. Só que falham menos quando o amor acompanha diálogo e compromisso. Não um compromisso de sucesso aos moldes da sociedade consumista, mas o sucesso para o espírito humano, o espírito de coletivo, de contribuição, de parceria.
Nisso, acredito. Ensinar, árdua e incansavelmente, que o mundo não é só dos jovens, que há outros seres compartilhando. Que é preciso dividir. Que é preciso ajudar, que é necessário ser bom, mas não apenas para si, mas para quem está ao redor. É preciso aprender a se sensibilizar. É preciso ser gentil com pessoas, árvores, bichos, água, terra. É preciso ter limite, calar a boca, arrumar o caminho onde deixou pegadas, se responsabilizar e consertar o que fez de errado e agora mesmo.
Então, ser mãe hoje é também saber cobrar: o exercício da escola feito, o dente escovado, a cama estendida, o respeito aos outros, o compromisso para com o bairro, a cidade, a natureza, o trabalho. Não é fácil cobrar: os nossos sempre são os melhores, os que merecem tudo. Ocorre que se não vigiarmos nossos tolos corações e incluir nesse imenso amor, a capacidade de entender que mesmos os nossos também podem praticar o mal, aí sim, estaremos permitindo a eles a fazer o que bem entenderem. E é certo que assim errarão,
Estas são possíveis respostas à pergunta “onde errei?”: permitiu, consertou erros que não eram seus, ensinou-o a se safar quando fez besteira. Então, o filho quebrou a própria cara ou a de alguém. Infelizmente, somos responsáveis por isso. E mesmo quando adultos, quando tiverem idade para responder perante todos pelos próprios atos, estará neles uma raiz, plantada pelas mães. Ou pais que fazem as vezes de mães. Ainda quando formos todas pó, ou cinzas, nossos filhos, ou os filhos deles, estarão decidindo e tomando atitudes com base no que ensinamos. Quando nossos filhos erram, se não foi por acidente, foi por nossa causa. No fundo, às vezes bem no fundo, outras nem tanto, por um momento qualquer, erramos com eles. E eles erram com o mundo.
É por isso que dá medo ter filhos nos tempos atuais: somos muitos no mesmo barco, para o pior ou para o melhor. A diferença fará quem não descansar até que o certo seja muito bem entendido e, praticado. Só que as forças contra nós são muitas e nem sempre justas. Então, mais que nunca é preciso vigiar.
Portanto, amar é preciso, muito e sempre. E educar também é preciso, muito, todos os dias, longe ou perto precisamos plantar as lições certas nos jovens corações. Haverá um dia em que todas valerão. Para o bem ou para o mal. Mas seremos nós, mães, ou quem exerce esse papel que as plantaremos. Intencionalmente ou não. E será responsabilidade de cada mãe, a vida que cada filho viverá. Terá tido cada uma a responsabilidade por pequenos ou grandes atos. Ensinar é preciso, vigiar, dar e tomar. Dizer sim e responder não muito mais vezes. De nossa força, nossos filhos tirarão suas razões, seus motivos para serem bons, para serem as pessoas que o futuro precisa. Um futuro mais que nunca, desenhado por dúvidas e fragilidades, de todos os matizes.
É assustador saber que é de nós que nossos filhos tirarão os moldes das vidas que terão; dos ensinamentos que lhes passarmos é que tirarão o modelo para o universo em que viverão. Ou não.

Magda Regina Miranda de Castro
Brasília, DF, 11 de maio de 2008.

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