segunda-feira, 23 de junho de 2008

SAUDADE PARA SEMPRE - Poesia

Saudade está sempre rondando
Se parar para pensar nela, fica enorme
Te arrebata, te leva a lugares, a rostos e risos
Saudade começa pequena, como a gente
De um professor, da sala de aula nas longas férias,
De uma colega que viajou só para o fim-de-semana.

Depois a gente tem saudade de certa festa
A primeira melhor delas, talvez um baile
Do abraço de alguém que só passou raspando
Depois de um sentimento novo e único que nunca mais se repetiu

Depois o mundo já grande ainda mais se alarga
E se amontoam saudades de lugares muitas vezes percorridos
De comidas, até as enjoadas, de todos os dias
E quando não se come mais, fica a lembrança. E o gosto.
Isso também vira saudade.

E a largueza do mundo leva ao avô querido,
Às trilhas estreitas nos espigões verdes e ventosos
Às grotas de enxurrada, cheias de segredo
Que o asfalto da cidade grande fez desaparecer

Então, enquanto cresce também o entendimento do mundo
A saudade acompanha e se alastra
E se num começo a sentimos distante
E as surpresas naturais da vida a amortecem
É só por algum tempo.

Porque chegará a hora de sua presença constante e fria
Porque os amores não se acabam, apenas se dispersam
Então, é a hora da alma se dispersar também
E correr mundo, num só minuto, em busca daqueles a quem quer bem.

Depois de tudo vivido como o é para qualquer um
A saudade é a constante companheira
Já habita a mesa, o sofá, o lado da cama.
Mora no jardim de lajes brancas

Fica ao longo da rua que se perde na esquina
No barulho do som do vento na janela,
Na cantiga dos passarinhos
Que agora também cantam na cidade,
as saudades de seus pequeninos corações.

Depois de longa caminhada,
Depois de tudo e todos se afastarem do alcance das mãos,
O que mais se tem é saudade:
De lugares, amores, cores, dores,
De risos, músicas, flores
dos filhos pequenos, e também grandes, que ganharam o mundo,

Ou de um filho, em especial, que não partiu de corpo,
Mas partiu dele a esperança, e fica, eterna vontade de ver de volta no rosto amado,
um riso iluminando.

Saudade da filha que constrói, muito longe, os sonhos que ajudamos a sonhar,
Saudade tanta, de tempos idos e de tempos que ainda virão,
De lugares onde imaginamos o que seríamos
De lugares em que fomos o que tivemos que ser

De pessoas. A! Essa saudade!
Daquelas que nos abraçaram quando choramos
Daquelas que nos fizeram chorar
Das que se desvaneceram na passagem final
Daquelas que ainda vivem e não alcançamos
Daquelas que estão ao nosso lado
E para quem não podemos dizer,
– ainda não inventaram as palavras para isso –
o tamanho da saudade.

Saudade – cresce com a gente,
Vai aonde vamos,
Está lá, mesmo que não a reconheçamos,
No trabalho, no lazer, na alegria, de dia.
E à noite, ainda sonhamos com ela.
E é tanta saudade, sempre
Que acabamos morrendo dela.

Magda R M de Castro
Brasília, 18 de junho de 2007.

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