sábado, 16 de agosto de 2025

 JANTAR DE SÁBADO À NOITE EM BOA COMPANHIA

Precisei comprar mamão, e ir à casa da Clara pegar frutas e carne que ela se esquecei de trazer; viajou e vai demorar a voltar. E regar as plantinhas da casa dela, impecável alias, tudo no lugar. 

Tarde de inverno, plantas desmaiadas, folhas secas batendo em muros e calçadas; ruas quietas do sábado de tardezinha já mostrava raios do por do sol chamejante, espetáculo incansável de se ver. Fiz a compra e pequei o caminho contrário a minha casa. Cumpridas as tarefas da visita, desci com malas e cuias e indo embora vi o restaurante de sushi aberto, comida que gosto um pouco. 

 

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

CONJECTURAS IMPRECISAS

Nesses dias típicos meus, gosto de devanear e numa das coisas que pensei hoje cedo enquanto no meu banho, de sol, regando minhas plantinhas é de como serei quando for velha. Tem gente que acha que já sou, o Estatuto do Idoso prova, e meu espelho rí da minha cara a cada dia mais amassada. O que é importante, entretanto, é meu coração acreditar ou não.

Raciocino, o que já é ponto a considerar bom; funciono toda mesmo que quicando parte ou outra. Até agora, não botei celular pra congelar, não andei nua em onde não é de bom tom, não rasguei dinheiro, pra citar os exemplos mais populares. Ainda cumpro compromissos, a consulta médica costuma ser o mais constante; pago em dia as contas, o que, claro, estão programadas eletronicamente; e datas não faço questão de lembrar todas desde moça, agora, então, estão relegadas ao ostracismo. Não me pergunte das notícias do dia: doei a televisão; não acompanho sítios de fofoca, vídeos de celebridades ou vida alheia: só dão canseira e desperdiçam meu precioso tempo. Ouço música e só aquelas escolhidas a dedo numa playlist quase acintosa que fiz. Leio livros, acabei de renovar os óculos pra tirar o atraso. E, finalmente, me deleito com séries asiáticas, e excepcionalmente, inglesas, quando quero tergiversar mergulhada num pode de pipoca doce.

Tudo o mais está em perfeito equilíbrio em seus devidos lugar e tempo.

Magda Castro

Brasília, DF, 07 de agosto de 2025.

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

 VENTOS DE AGOSTO

Não acredito, mas assim que abri a porta da rua, um carro veloz avançou sobre a calçada que eu pisava. O susto foi grande que gritei com o motorista pra usar a rua, olha a calçada quebrada, o que talvez ele não tenha ouvido, espero. Mas foi por um tris que me livrei dessa.

Precisei sair pra ir à feira comprar queijo e castanhas depois ao mercado comprar pão. Quando terminei, ao atravessar a rua, olhei pra lá, olhei pra cá; tudo certo, avancei. Foi o tempo exato de levar outro susto: um Jeep avançava rápido em marcha-a ré bem no meu rumo. Uma moça gritou. Pulei, melhor, meu coração. A valença é que sempre ando com água na sacola. Dois goles, me acalmei; e rumei atenta pra casa. Tranquei a porta por dentro e fui ver se ainda havia incenso, do brabo, pra queimar.

Não é que acredito...


Magda Castro

Brasília, DF, 04 de agosto de 2025.


quarta-feira, 23 de julho de 2025

 DESCONCERTANDO

Hoje de manhã queria voltar pra cama depois de tomar café e remédios. É que o dia de ontem foi meio desconcertante. E a noite foi de sonhos também desconcertantes; longa sequência de desconcertos. 

Ocorreu que ontem, mesmo que tenha me preparado minuciosamente pra um exame, assim que saí de casa peguei ônibus do lado errado da rua. Fiz tour pelo bairro e arredondezas até chegar na estação do metrô; e fui abalroada pela porta. Roxos novos? Nada sério. E errei a estação de desembarque. Nada grave, peguei outro carro de volta. Desci num mundo desconhecido e quis muito ter bussola que me dissesse norte ou sul! O google maps não me indicou se estava indo pra lá ou pra cá. Liguei pra clinica, disseram que perguntasse aos vizinhos. Por fim, peguei Uber pra achar o lugar. Cheguei na hora e levei um chá de cadeira pelas próximas hora e meia. Isso já somava próximo de cinco horas, nada a reclamar, eu contava com isso. Mas não contava que o lugar sem janelas era labirinto de paredes brancas. Tá, posso administrar isso: caminhei onde pude, fui ao banheiro, bebi água, comi baru, me sentei de novo pacientemente. Quando a atendente me botou num armário pra tirar roupas e badulaques, desconfiei que estava ansiosa. Tive certeza quando o técnico me envolveu  a cabeça com grade de ferro, me botou surda e entregou uma coisinha pra chamar por ele caso precisasse. Perguntei quanto tempo duraria, oito minutos é eternidade, decidi. Desisti, o técnico me libertou, remarquei o exame, pedi ajuda a minha filha pra próxima tentativa. Frustração? Todas. Ainda argumentei com meus botões que tinha me esforçado por aquilo, gastado tempo e dinheiro e iria desistir? A grade continuava na cabeça e não saiu mesmo depois que bebi muita água fresca, lanchei, vesti pijama e adormeci. Talvez por isso sonhei com meu filho longe há tanto tempo.

Juntando tudo, hoje me levantei tarde, mas preparei o café como sempre, tomei remédios e iria pra cama de novo, mas precisei jogar a água da lavagem de loucas nas plantinhas que a seca não perdoa. Foi quando vi o buquê de flores do manacá da serra abertas no primeiro estágio: brancas. Elas ficariam lilases depois de uns banhos de sol. Tirei foto, mandei pra minha caçula longe. E fui tirando fotos das outras flores e mandando mensagens pro nosso grupo, pras amigas, pra colegas. Nessa lenga, lenga, o dia já vai longe transformando desconfortos e pesadelos em tarde sossegada. A grade na cabeça? Por ora, não preciso pensar nela.

Magda Castro

Brasília, DF, 23 de julho de 2025. 


quarta-feira, 16 de julho de 2025

CATANDO ARROZ
Nesses tempos despretensiosos, coisas mudam depressa demais. Eu tinha certeza que era cuidadosa com as coisas do dia a dia, botava tudo no lugar, achava tudo até no escuro. Hoje cedo prestei mais atenção num ocorrido e tive que admitir que já não sou mais a mesma.
Há dois dias, peguei o pote de milho de pipoca e intentei colocar na pia perto do fogão. A panela larga estava quase quente com a manteiga estralando delicadamente. Não sei porque cargas d`água, de repente procurei o milho assim já quase passada da hora de botar no fogo, e cadê? me virei pra ver se estava no balcão mais longe e dei um passo. A sapatilha laranja de pano, outra herança das que minhas filhas não querem mais, mas boa sem tanto pra aquecer os pês nesses dias gelados estralou. Olhei pra baixo e lá estavam os grãos, também laranjas, espalhados no piso branco, encardido, registre-se. Me diverti com tantos laranjas descobri de uma vez só ali; e a panela estralando. Desliguei. Levei um tempo gigante pra limpar tudo e finalmente estourar a pipoca.
Ai, hoje ali por volta do meio dia, tomei café da manhã às 10 e 30 hs, resolvi adiantar o almoço e botar a panela elétrica pra ir tomando conta do arroz. A mistura seria frango com quiabo; o frango foi congelado temperado, então, ´tava fácil. 
Me distraí fazendo não sei o quê, e grãos brancos deslizaram em cadência pro chão, pra debaixo do fogão, da fruteira, pros armário e geladeira do outro lado da cozinha. Uai, Dona Magda, desde quando vc inventou de derrubar de tudo o quanto há? O Alexandre passou na hora e disfarçou o riso num comentário que não me lembro e foi pro quarto.
Peguei o arroz com cuidado, fui pra frente da luz do jardim catar os ciscos, isso me lembrando do tempo em que catava cascas de arroz na peneira, lavei e botei na panela. Depois de almoçar, ao limpar melhor a cozinha, descobri junto aos grãos de arroz remanescentes, grãos de milho de pipoca. Esses foram pro lixo, contrariada não acredito que o milho viraria pipoca se cozidos junto ao arroz.

Magda Castro
Brasília, DF, 16 de julho de 2025.


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

DA DOR

Não costumo falar de dor, tantas todos temos acho perda de tempo como não conheço vocabulário pra falar apropriadamente dela. É que em tempos de, meu coração só consegue ficar em slow motion, respiro devagarinho, me aquieto num canto esperando passar. Quanto mais dói, mais muda fico. Desligo músicas, me envolve em meus braços, fecho olhos. Me coloco em modo semimorta ou em casos mais dolorosos ou choro em potes ou me calo dolosamente. Se me veem quieta, calada, o riso disfarçado, está doendo. Se me perguntar talvez eu confesse ou fale de outra coisa.

Entretanto, em eventos insuportáveis poderei soluçar e se achar, aceito um braço. Do tipo calado também, caridoso o bastante pra me ouvir repetir o mantra que me maltrata. Possivelmente isso acontecerá uma vez, duas no máximo, porque de outra vez que doer a mesma dor eu já terei me acostumado com ela e continuarei sendo eu quietinha num canto suportando até passar. Porque não conheço palavras para descrevê-las. E tal conhecimento dispenso.

Brasília, DF, 06 de fevereiro de 2025.

domingo, 2 de fevereiro de 2025

DOMINGOs

Dias de domingo sempre me encantam, me fazem alegre. Foi pensando a respeito do porque que talvez tenha encontrado a explicação. Pensando lembranças, memórias caríssimas, doces e ainda mais que nessa semana passada um dos queridos sobrinhos enviou fotos antigas dos meus pais. 

Algumas não conhecia como a foto de meu pai de barba e chapéu; imagina um homem lindo, o olhar redondo num rosto perfeito de sobrancelhas grossas desenhadas. Jovem belo, inacreditável o meu pai jovem, charmoso e encantador. O pai que furava as tampinhas de guaraná e me aconchegava ao colo aos domingos quando chegava de suas aventuras e me brindava com presença rara. Uma menina sardenta de boca grande virava princesa nos braços daquele homem misterioso, etéreo. Assim era a presença de meu pai, etérea, em dias iluminados e um dragão raivoso em noites intermináveis. Eu ouvia meus pais do outro lado da parede e a dubiedade de sentimentos, confusão, medo até, marcavam meu despertar na manhã seguinte numa realidade impregnada de incredibilidade  e horror.

Incontáveis anos de alegrias e tragédias. mesmo assim gosto dos domingos...


Brasília, DF, 02 de fevereiro de 2025.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

TARDE DE CHUVA IMINENTE

O fim-de-semana foi quente, iluminado, belo. Imaginei que a semana toda seria do mesmo jeito pra confirmar o verão no seu original. Eu ainda estava à mesa tomando café quando as pedrinhas do jardim começaram a se debater. O vento veio me mostrar que o céu azul de cristal que vi quando abri as janelas cedinho tinha se transformado em palco de nuvens descoloridas.

Rapidamente, o dia de segunda-feira de muitas possibilidades se transformara em possível recolhimento, talvez tenha me sentido cansada de repente. Pretendia fazer tanta coisa no meio daquela luz redentora, mas, então, quem sabe em outra tarde, outro dia, outra semana, talvez no outono? dramática, ne? Riso. É apenas uma tarde de chuva como tantas outras; e já as vivi tantas!

Brasília, DF, 27 de janeiro de 2025.