tag:blogger.com,1999:blog-32096140293547786482024-03-13T13:43:17.696-07:00A MULHER QUE VIROU ÁRVOREMagda Castrohttp://www.blogger.com/profile/08655232413296349589noreply@blogger.comBlogger169125tag:blogger.com,1999:blog-3209614029354778648.post-36975102451232264982023-12-22T06:41:00.000-08:002023-12-22T06:41:54.473-08:00<p> <span style="white-space-collapse: preserve;">TEMPO, ESSES</span></p><span style="white-space-collapse: preserve;">Todos os anos aqui em casa o mês de dezembro valia por dois: ainda sem férias que seriam mesmo só a partir de janeiro, tantos compromissos todos tinham que trinta e um dias eram insuficientes para tudo que se queria fazer. Ainda mais que o Natal por aqui era literalmente festa. São caríssimas as lembranças do Natal sendo celebrado, cada um de muitos, de quando ainda havia crianças correndo, de quando havia jovens, e mesmo de quando muitos escolheram seus caminhos longe e vinham celebrar aqui, nessa casa construída para vivermos nela para sempre. </span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">Costumo dizer que a vida é surpreendente, longa, longa a minha. E boa. De dias causticantes, hoje mudou para fresco e quando desci para preparar o meu café precisei colocar agasalho. Foi uma delicia rever a blusinha surrada esquecida atrás da porta. Cismando à mesa descobri o silêncio da cozinha, nem a música liguei, era antes das sete. Faltando um dia para a véspera do Natal, não marquei compromisso para a data quem dirá para as próximas. Nesse ano, ninguém virá. Dos remanescentes dos moradores, os de perto, dois têm compromissos em outras lugares. Fico eu, finalmente, pra regar as flores ou espantar aranhas. Mais, formigas, há fileiras delas pelos cantos, pelo pátio, nas folhagens: descobriram os vazios. Queria ter feito a faxina tanto há nos armários coisas que ninguém quer mais. Descobri, rindo, revendo cadernos bolorentos que eu estava tentando reter a vida como costumava ser. Ainda terei serviço para o ano: dou a mão à palmatória que ando mais devagar nesses tempos. Tempo presente. Tempo de presentes; o maior, memórias. </span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">Quietinha no canto da mesa vejo desfilar pessoas e sons tudo tão vívido que quase os convido pro café. Chegam pessoas que riram, correram, choraram, viveram aqui afinal. Rostos lindos, tão amados, conversas, cantorias, gritos, ah, sacodem a quietude da manhã. </span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">Tão confortável manhã que posso me demorar, nem as plantas tenho pressa de regar: a chuvinha da noite refrescou as folhas, o tempo, o mundo, meu coração. </span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">Tempo bom, esse, de Natal.</span>Magda Castrohttp://www.blogger.com/profile/08655232413296349589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3209614029354778648.post-5306052612306988842023-08-05T08:00:00.002-07:002023-08-05T08:03:09.849-07:00<p> <span face=""Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif" style="background-color: #242526; color: #e4e6eb; font-size: 22.5px; white-space-collapse: preserve;">AINDA NÃO SEI</span></p><div dir="auto" style="background-color: #242526; color: #e4e6eb; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 22.5px; white-space-collapse: preserve;">Questões eternas: quem sou, o que vim fazer nesse estado de ser vivo com espírito e cérebro pensante? Nessa manhã de sábado silenciosa porque liguei o Spotify bem pertinho não ouço o mundo lá fora, inusitadamente paro ouvindo música. Ontem fiz exames e meu coração bate razoavelmente certo, mas eis que depois do café hoje me apeteceu sentar pertinho da música, quietinha; as roupas sujas podem esperar. Agorinha quero fazer nada e cismar à toa na vida. E aí é <span style="font-family: inherit;"><a style="color: #385898; cursor: pointer; font-family: inherit;" tabindex="-1"></a></span>que essas perguntas me alcançam e revejo uma estrada inacreditavelmente longa atrás de mim. Me encanto com essa história só minha, nada extraordinária. Me surpreendo com tanta beleza esse mundo me ofereceu, experiências únicas, e preciosas. Em meus sonhos mais arrojados não constam viver até esse tempo tão espetacular em que vivo nesse momento. Até as tragédias que vivi têm essa nuance de surpresa que me impediu de assimilar totalmente cada uma. Ri muito, sem vergonha, chorei, talvez mais, mas nem o riso nem o pranto me fizeram parar de viver como melhor pude. Mantenho um sonho ou outro na manga, sabe-se lá se há surpresas vindo por aí. Sei, entre montanhas de dúvidas, que ainda vou plantar flores, caminhar em tardes frescas, continuar observando as estações e viver bem cada uma, atrevidamente usar perfume, vou dançar, ler, escrever... porque mesmo que não tenha respostas, tenho todas as dúvidas do mundo, o que parece, afinal, são o que tornam a vida ainda mais espetacular.</div>Magda Castrohttp://www.blogger.com/profile/08655232413296349589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3209614029354778648.post-85776537251989954912023-06-22T06:32:00.002-07:002023-06-22T06:32:41.270-07:00<p> </p><p class="MsoNormal">INVERNO, DE NOVO<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Começou ontem, oficialmente, a estação de inverno desse ano.
Não que já não houvesse dias frios antes, mas pra seguir o calendário racional
ficou marcado ontem como o começo de inverno. Não que me preocupo com isso,
calendários e invernos, mas noto que minhas costelas resmungam mais nesses
dias. E hoje cedinho, ali pelas 5 e poucos da manhã, o celular avisou que a
temperatura era 11 graus. Isso, para minhas costelas, é um assombro. E todas as
vezes que vejo números como esses me dá uma saudade danada da beira do mar
quase sinto o calor esvoaçando minha pele. Digo que não gosto de frio como digo
de muitas outras coisas, latidos intermináveis de cachorros por exemplo. Ficam
lá os pobres cães latindo pras sombras presos atrás de grades sem nem entender
porque latem já que de ladrões a gente não ouve muito falar por aqui. E se os
cães estão presos quem dirá os ladrões pelas ruas em condições de miseráveis
friorentos. Pobres ladrões, pobres cães, tão presos nesses limites
ininteligíveis da vida dita moderna. Os cães deveriam estar soltos por colinas
infinitas e os ladrões, não, os ladrões não deveriam estar soltos em colinas
apesar de que há deles que estão soltos em iates e até submarinos. Deveriam
estar lendo. Acho que ler ajuda muita gente a melhorar de vida, isso, se
souberem o que ler, claro o que nos leva a outras colinas verdejantes. Não que
eu possa resolver nada disso nem os latidos dos cães presos nem a miséria dos
ladrões soltos ou presos ou do inverno que marcou a chegada depois que já tinha
vindo.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É por causa desses dias de
inverno que digo que não gosto de inverno, mas no fundo, há poucas coisas de
que me dou o trabalho de não gostar. Em qualquer manhã dessas vou descobrir que
gosto do inverno até porque é nessa estação que minhas plantinhas descansam do
seu eterno labor de nascer. Aproveito pra trocar terra, fazer podas tímidas,
medo de machucar, trocar vasos quebrados. Posso até gostar do inverno qualquer
dia desses principal e essencialmente porque depois dele vem a primavera. Dessa
digo que gosto; ainda mais quando posso caminhar por colinas verdejantes sem
casacos e meias.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Brasília, DF, 22 de junho de 2023.<o:p></o:p></p>Magda Castrohttp://www.blogger.com/profile/08655232413296349589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3209614029354778648.post-18080650602016551932023-04-19T06:34:00.003-07:002023-04-19T06:34:29.968-07:00<p> <span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">SOB O SOL DE OUTONO</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Juntei plantinhas no canto da mesa da copa pra pegarem
raios de sol da manhã. Manhã de outono; chegou trazendo notícias do inverno,
ventos discretos, e carregando as últimas chuvas de verão, fortes e instantâneas,
na bagagem. As quatro estações se manifestam nessa manhã de sol claudicante e
fresco. Há ventos de inverno fustigando os pês de beijo do balcão do meu
quarto. Há nuvens muito azuis e nuvens cinzas. Há flores, uma rosa amarela
insistiu em vencer as pragas e acabei que a cobri com um pano, pena que daí não
posso apreciá-la de fato. E há luz. Essa irrompe pelas vidraças do jeito que eu
quis desde antes e circulo satisfeita pela casa checando a água dos vasos. Sempre
há plantas se renovando, como a avenca que se desfolhou totalmente fazendo jus
ao outono, mas os brotos agora irrompem em todas as direções, uma lindeza. A hera
sofreu muito com o calor do verão já que estava de cara pra porta de vidro do
lado poente; começou a secar as folhas. Pesquisei, talvez água demais, talvez o
sol do meio dia, gosta de espaço. A pendurei com uma corrente dourada num dos esteios
da escada e ela está lá se balançando sob as migalhas do sol vindo do jardim de
inverno. Podei o galho ressecado e as folhas rajadas de branco e verde dançam
livres pelos vãos brancos e quietos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Agora, as orquídeas, bem, de orquídeas falarei em
outro momento: o delicioso sol de outono convida para uma caminhada ao ar
livre.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">Brasília, DF, 19 de abril de 2023.</span></p>Magda Castrohttp://www.blogger.com/profile/08655232413296349589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3209614029354778648.post-78214855651436600492023-03-23T09:01:00.000-07:002023-03-23T09:01:01.705-07:00<p> </p><p class="MsoNormal">Desconstruindo minha vida<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Foram três caixas hoje. As enfileirei sobre as pedras
quebradas da calçada dos fundos, de livros. Nãos são as primeiras nem as últimas.
No barzinho, na estante grande do corredor, nos armários do hall, em gavetas e
até nas cadeiras da mesa da varanda há livros pra jogar fora. E revistas de coleção,
as Arquitetura e construção e as Cláudia são as mais numerosas. E tem
embrulhadas no pacote, restos das Grande Hotel de minha avó que minha mãe guardou,
e que guardei por minha vez. Cai na besteira de encher as caixas antes de
coloca-las na rua. Tive que arrastá-las pela casa todas. Claro que em manhãs de
quinta-feira quando o caminhão de coleta de recicláveis passa há, muitas vezes,
vários tipos de material para serem coletados. Não eram só caixas que se
alinhavam ao meio fio. Hoje tinha até o material velho que foi trocado da caixa
de descarga; essa foi grande vitória: deu trabalho por anos, vamos ver se
resolvei dessa vez.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Pensei que podia fotografar para mostrar a minhas filhas,
principalmente a que vive mais pero de mim que tem me estimulado a jogar fora
coisas inúteis. O policiamento é ferrenho e tenho isso como meta também principalmente
depois do dia que ouvi “não vou guardar suas revistas velhas quando você morrer,
mãe”. Respondi que podia jogar tudo fora, tudo que fosse meu. E hoje vários pacotes
de partes de mim foram descartados pelo mundo afora.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Tenho feito muito disso por esses dias. E parece que as
coisas estão se multiplicando ao invés de serem reduzidas, hoje mesmo achei uma
teia de aranha enorme. Puxei um criado, velho também, do canto da janela pra enxugar
pingos da chuva forte que caiu de repente. A teia fazia voltas criativas pela
madeira e trançava um bordado discreto tão bonito que tive pena de passar o
pano. Não evitei um sorriso bege quando pensei que haveria outros lugares onde
estariam sendo construídas teias tantas são as tramas que observo. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">E vai ainda que jogar coisas fora não é tarefa fácil. Hoje cedo
mesmo separei com cuidado cadernos e livros, e provas antigas de meus filhos,
guardados que poderiam recontar as histórias de cada um. Tomei o cuidado de
retirar os plásticos das capas, os encapava todos e botava etiquetas
identificando, filho, colégio, ano, muitos. Achei duas provas da mais velha,
uma de matemática e outra de desenho, as duas com 3 de 10. Outro sorriso, e
essa menina ontem me pregou peça pelo WhatsApp dizendo que tinha perdido a função
de analista. Imediatamente passei mensagem de coparticipação na tragedia
pedindo pra ela explicar o que aconteceu. Mais tarde veio o kkkkkk pra dizer
que ela perdeu a função pra ser promovida a chefe. Pronto, o susto foi apenas
encenado e todos nos voltamos ao grupo pra felicitar, aprovar, e coparticipar
da alegria. E as duas provas nota 3 foram pro caminhão de recicláveis hoje cedo.
Eu tenho, tinha porque estou me esforçando, mania de guardar lembranças dos
meus filhos, medo de a memoria falhar o que é pesadelo pra quem passa pela essa
idade que vivo. Medo de desconstruir um mundo mágico que vivemos nessa casa. Mesmo
que tenha havido teias de aranha, vivemos bem na maior parte do tempo, sei por
mim e por eles, sei porque o meu coração acredita assim. E isso não é passado: foi
tudo magia quando vivi com todos os meus amores nessa casa.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Se os cadernos velhos e livros desatualizados estão sendo cuidadosamente
separados para reciclagem, minha vida de esforços e trabalho para cuidar de
quem amo vai ficando pelos bordados de minha memória, ainda, e essas farão parte
de mim mesmo que todos os cômodos por aqui sejam desmontados. Corre em meu sangue,
faz parte de minha respiração, meu coração bate, ainda, apenas pelos meus
amores porque são eles os que morarão para sempre em mim esteja eu rodeada de
traças ou me espreguiçando em manhãs milagrosas em algum lugar do universo. Porque
é deles que sou feita, de meus amores. E esses, gire o mundo como quiser, não serão
jamais, de nenhuma forma, empacotados para encher o caminhão da quinta feira..<o:p></o:p></p>Magda Castrohttp://www.blogger.com/profile/08655232413296349589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3209614029354778648.post-76653373730922338212023-02-23T07:33:00.003-08:002023-02-23T07:33:34.962-08:00<p><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; text-align: justify;">OUTRO LADO DA PALAVRA
ESCRITA OU FALADA, OU O MESMO</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Sobre escrever textos se
sabe muitas coisas e uma delas é que tudo que é escrito fica guardado, quem
sabe, atrevidamente, para sempre. Escrevo cotidianos, minúcias, pequenices que
me encantam. Conto de meu canto, dos meus causos, dos meus contos. Nada grandioso
nem visto a olho nu, ou a coração nu, digo melhor. Gosto de escrever sobre o
café da manhã, o almoço, falo da chegada ou da partida, de flores se abrindo,
ah, como gosto de escrever de flores. Gosto de contar histórias, prefiro as
verdadeiras porque não tenho grande imaginação de inventar histórias falsas.
Mas gostaria de escrever o outro Harry Potter, apesar que estava pensando dias
atrás que a literatura tem isso de recriação: textos eternos que muitas vezes
jazem em prateleiras poeirentas são descobertos por alguém com imaginação bastante
criar dali um mundo novo. Acho por isso a literatura eterniza a vida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Bom demais saber de gente
que viveu há milhares de anos e foi feliz o bastante pra pensar em registrar a
própria história e essa agora está aí encantando, ou desencantando, pessoas de
toda parte. Acho que por isso todos nós podíamos escrever sobre nossas vidas.
Há alguns anos, limpando um guarda-roupas de minha mãe que tinha sido de minha
avó descobri uma folha de papel amarelado. Me surpreendi com a biografia de
minha avó escrita por ela mesma em estilo trôpego escolar. Uai, não era
propriamente biografia já que o texto todo mal ocupava metade da página, mas
trazia os dados de local e data de nascimento, nomes dos pais, nome dos filhos
e endereço da época. Amei ler, guardei a relíquia com carinho e vez ou outra
releio pra me lembrar dos que viveram antes de mim e que por isso vivo hoje.
Então, escrevo dessas desimportâncias até pensando que uma pessoa qualquer no
futuro leria sobre elas. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Escrever, ou contar
histórias, sobre minha vida, estranhamente, me dá a sensação de dizer de um
olhar tão meu e, penso que, talvez, esteja contribuindo ou partilhando
importâncias. Se importante ou não para o que me lê, ou ouve, não sei ao certo,
mas para mim é delícia quando releio o escrito há anos. Isso é o que queria
dizer sobre o valor da palavra escrita: dizem de pequenas histórias sem
importância que se escreve sobre aspecto ou outro sem importância. Ocorre que
relendo meus textos descubro que o valor da desimportância daqueles tempos tem
importância sem medida hoje. Para mim, especialmente, mas quem sabe, importante
também para alguém que esteve entre os personagens daquele tempo tão tão
distante.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Magda Castro<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Brasília, DF, 23 de
fevereiro de 2023.<o:p></o:p></span></p>Magda Castrohttp://www.blogger.com/profile/08655232413296349589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3209614029354778648.post-47655537897239456572022-07-26T13:07:00.000-07:002022-07-26T13:07:16.511-07:00<span id="docs-internal-guid-04825143-7fff-d7d6-4a2c-5c5b44550f51"><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">ROMANCE</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Inebriada pela música destilando notas de pianos, resolvo abrir as grades de uma das janelas. Espreito com cuidado a cena que entrevejo meio na penumbra: árvores ao longe, uma espetacular mangueira irrompe ao fundo carregada de flores, espatódeas, abacateiros, figueiras desenham o horizonte do meu primeiro olhar. Está tudo tão quieto que crio coragem e escancaro as persianas. Estico o pescoço pra direita, depois para a esquerda: telhados, tantas cores, paredões ou casas simples misturadas às sofisticadas com cara de arquitetos modernos. De novo a democraticidade do lugar permite esse convívio espontâneo. </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Silêncio. A rua todos os dias barulhenta não tem, nesse momento, nem latidos. Ouvi andorinhas, piados que desapareceram na imensidão rapidamente. Ergo os olhos para o alto, talvez conduzida pelas notas mágicas, num desejo irrefreável de oração. Domingo, poderia ir a missa, sim, poderia.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Um carro avança devagar pela direita, passa rateando pela minha janela, segue seu rumo ruminando talvez pesares. Volto a olhar o céu claro da manhã azul de infinito com traços raros de nuvens brancas. Essas, talvez nem naturais já que os caças já rasgam os céus em treinamento para o setembro que deve chegar logo.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Fico quieta apreciando o sossego deixando a música celestial me envolver ternamente. Quero chorar? Tudo tao maravilhoso!</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Uma folha se arrasta pelo asfalto possivelmente se despedaçando levada pelos ventos de agosto que não esperaram seu tempo. Assim é tudo no universo: todos os seus fenômenos vão acontecendo sem pedir licença. Rio comigo: pedir licença a quem, aliás?</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Universo, tempo presente, tempo incerto de futuro, imensidão; aqui, quietude, tanta, eis que é manhã ensolarada de domingo invernal. Tantos milagres; definitivamente pega muito bem uma oração num dia como esse. E de joelhos.</span></p></span><p> </p>Magda Castrohttp://www.blogger.com/profile/08655232413296349589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3209614029354778648.post-7017872260143684752022-07-26T13:03:00.003-07:002022-07-26T13:03:55.803-07:00<p><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;">DA PERDA</span></p><span id="docs-internal-guid-e92a87f4-7fff-17ab-1ec8-4a68cbd4e67f"><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Nossa razão sabe que acontecerá, em um dia, ou dois, ou muitos dias à frente de nossas vidas. Um objeto útil que se perde irrita pelo trabalho que dá repor; e objetos, em geral, é possível substituir. O casaco preferido, o brinco que ficou um: perder coisas é comum, pequenas ou grandes, as chaves, o lenço, o celular. Perder o caminho da festa, o endereço onde há muito não se ia, perder a estação correta para plantar sementes de certa flor, perder a vista sobre montes mágicos, perder o tempo de colher, perde-se de tudo todo tempo. </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">É natural irmos deixando coisas pelo caminho, e o que ainda levamos em nossa bagagem vai nos fortalecendo para a viagem, na maioria das vezes, nos deixando mais leves para apreciarmos a jornada.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Se aprendemos que a perda pode significar a chance de conhecer outras paisagens, sentir amores mais plenos, a perda é essencial para a evolução de nossas almas. </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Da perda de pessoas amadas, entretanto, essa compõe cicatrizes indeléveis que nos entristecerá mais profundamente e para sempre. Mesmo que não choremos em prantos soluçantes, a perda de pessoas que fizeram parte de nossas vidas até o café da manhã de ontem não tem conforto verdadeiro. o que fazemos é seguir com o riso no rosto e o corte no peito. Essa perda fará parte do resto do caminho e o lamento mais profundo deve acontecer somente depois que o coração aceitar. a lágrima pura poderá lavar o machucado, mas não retirará a ferida do lugar.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Perder quem amamos é a mais cruel das naturalidades nesse universo: seremos, para sempre, menos felizes.</span></p><div><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div></span>Magda Castrohttp://www.blogger.com/profile/08655232413296349589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3209614029354778648.post-13244226211321235412022-07-26T13:01:00.000-07:002022-07-26T13:01:00.289-07:00<p> <span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;">INVERNO</span></p><span id="docs-internal-guid-7ef9af2e-7fff-2ef0-39c2-2e5b27f9692a"><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">No meu tempo de menina pequena passeando na roça, me lembro como era difícil a jardineira subir e descer colinas pelas estradas vermelhas barrentas; mesmo assim, depois de apear da condução, tínhamos que caminhar alguns quilômetros até chegar ao destino, à impecável sede da fazenda de meu avô paterno. No tempo do “inverno” quem ia chapinhava os calçados no barro misturado a estrumes. Essa caminhada, às vezes debaixo de chuva, era uma das minhas alegrias; gostava de ir catando muricis, cagaitas e arrancando hastes de capim pra cheirar a seiva fresca. E era morro abaixo até quase na porteira do quintal, desse jeito, não me lembro de canseiras.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">De um desses “invernos” me lembro mais por causa da enchente borbulhante que cobria a ponte que dava acesso aos pastos ao redor da casa. Área plana depois de ladeiras, ali meu avô cultivava arroz e enchia as tulhas no porão. Fartura, farturão, como ele dizia orgulhoso. Bem, num desses “invernos”, o ribeirão da divisa transbordou por muitas léguas lavando capinzais, pomares, arrozais e tudo que achava pelo caminho. Foi a primeira vez que tive noção do que era mar. Tínhamos acabado de descer uma colina mais íngreme e ao virar um curva com barranco, demos de cara com o aguaceiro. Me assustei, mas não me lembro de ver se mamãe se assustou. Se foi assim ela disfarçou bem. Acostumada com boi bravo, cobras, galinhas chocas e gente de todo tipo, mamãe não pareceu estar com medo da água de barro que encobria a ponte e parte da porteira do outro lado. Determinada, me lembro que parecia, ela arrancou um ramo grosso de assa-peixe e desceu devagar tateando o caminho submerso. Dava um passo à frente, tateava de novo, outro passo, outra tentativa. Assim foi avançando pra corredeira do meio do redemoinho. Foi então que comecei a gritar de longe, da margem segura, em pé no seco. “Vai não, mamãe, a enchente vai te levar! '' Quando ela achou que eu estava exagerando na gritaria, me deu uma bronca: ”Tem dó, menina, você acha que uma aguinha dessas vai me impedir de chegar em casa?” E voltou pra me buscar. Puxada pelo braço com firmeza, fui seguindo atrás da mulher intrépida medindo a altura da água com um ramo torto até alcançarmos a porteira do outro lado. A água era tanta que não conseguimos abrir a taramela, foi preciso subirmos as ripas e pularmos a cerca. Pouco mais à frente já conseguimos ver o capim debaixo da água e estávamos em segurança pra seguir o traçado da estrada de pedregulhos sob os nossos pes; Estamos salvas, pensava eu aliviada até alcançarmos o chão batido do quintal do casarão. </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Memórias eternas, essas, que esse tempo de verdadeiro inverno traz nítidas em noites cismarentas. O inverno que sei hoje é esse de frio e poeira e não aquele do meu avô que chamava assim os dias de chuvaréu.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Inverno. Sei o que é. mas não o prefiro, respeito sim, em todas as suas cores e dores, mas não digo que gosto, tolero. Porque quando termina o Inverno, irremediavelmente, inexoravelmente, começa a Primavera.</span></p><div><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div></span>Magda Castrohttp://www.blogger.com/profile/08655232413296349589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3209614029354778648.post-1804882108237761462022-05-16T08:32:00.002-07:002022-05-16T08:41:07.578-07:00<p><span face="Calibri, sans-serif" style="font-size: 11pt; text-align: justify; white-space: pre-wrap;">DETALHE ENCANTADOR</span></p><span id="docs-internal-guid-87402f75-7fff-d5da-9c50-4b88e97daa4f"><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 6pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span face="Calibri, sans-serif" style="font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Nesse ano, 2022, comemoramos o dia das mães muitas vezes. Começou com o almoço com a Clara que durou a tarde toda de sábado: o menu? Sushi, evidentemente; ela iria viajar na manhã seguinte cedinho. À noite, eu e mais duas amigas, fomos jantar no Verona, o restaurante que tem a fonte do amor eterno de Romeu e Julieta, ouvindo a Amanda. Alegria em penca até aqui.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 6pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span face="Calibri, sans-serif" style="font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O domingo começou ao amanhecer, claro, não poderia ser de outro jeito, mas para mim foi de jeito diferente: levei a Clara ao aeroporto de madrugada, quase, para ela curtir praia ainda de manhã que o tempo urge. Em casa de volta, cuidei do cachorro, joguei estapafurdiamente água num vaso ou outro de plantas, daquelas que não tem água que chegue, tomei banho e me vesti de domingo,</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 6pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span face="Calibri, sans-serif" style="font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Amanda me pegou pelas 8 horas e partimos pro Café do Fred, Meet and Coffee, onde Amanda se apresentaria de novo. Ah, imagina a delícia de um cappuccino com quiche sob sombra de esplendorosas sibipirunas! E ouvindo a voz doce de minha cantora predileta.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 6pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span face="Calibri, sans-serif" style="font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Bem ali, andando sobre folhas e gravetos foi que fiz a vídeo-chamada para minha primogênita que mora no lado frio do Brasil. Mesmo que o dia já tivesse acontecido em boa parte ela ainda estava na cama. Se levantou sacudindo os cachos e fez um tour pela casa nova. Vida nova, minha Carolina, que seja muito melhor do que imaginou porque você batalhou empunhando espadas, digo, canetas e livros, para viver essa vida que escolheu. Lágrimas? Jorrando de contentamento, as minhas. Alegria em penca continuando.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 6pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span face="Calibri, sans-serif" style="font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A manhã já ameaçava virar tarde quando juntamos os equipamentos, Amanda, Danilo, o namorado e eu, e partimos para o Meliá 21. Outra apresentação, e eu, junto. Nem preciso falar do lugar, todo mundo sabe o que é um Meliá, mas o que me deixou maravilhada foi ver que o terraço onde ficamos dava de cara para o céu de Brasília, incomparável esplendor com nuvens brancas, juro que vi um coelho, espalhadas em fundo azul infinito. </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 6pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span face="Calibri, sans-serif" style="font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Quando Amanda começou a cantar, e o Beto na guitarra, hóspedes vieram cumprimentar, elogiaram muito; havia conhecidos comemorando a data e fomos apresentados a pais, mães, avós, filhos: alegria e carinho, muito disso.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 6pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span face="Calibri, sans-serif" style="font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Enquanto durou o show, andei pelo terraço, visitei a horta de manjericão, hortelã, pimentas, alecrim. Chequei o buffet que iríamos almoçar juntos depois e finalmente me sentei sob a sombra do pergolado esperando, e apreciando. Foi aí que um garçom botou uma taça, dessas esguias de cabo longo, borbulhando de champanhe rosé na minha frente. Olhei sem dizer nada, muda da surpresa, e ele foi embora sem dizer nada. Uai, menino, peguei a taça e beberiquei o conteúdo pouco a pouco até não sobrar única gota.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 6pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span face="Calibri, sans-serif" style="font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Mais tarde, ao final do show, os frequentadores do restaurante vieram cumprimentar e se despedir dos músicos. Foi quando um homem simpático me disse: "mãe que acompanha a filha talentosa pra comemorar o dia especial merece celebrar com champanhe.” “Obrigada.” foi tudo o que me coube dizer. Tim, tim!</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 6pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span face="Calibri, sans-serif" style="font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Brasília, DF, maio de 2022.</span></p><div><span face="Calibri, sans-serif" style="font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div></span>Magda Castrohttp://www.blogger.com/profile/08655232413296349589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3209614029354778648.post-74432254105393829542021-04-09T11:42:00.007-07:002021-05-13T08:09:11.922-07:00AS ESTAÇÕES E EU<p> </p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;">Me sinto tão tola<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;">por amar tanto o céu<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;">a chuva redentora, o verde do
mundo,<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;">a flor gloriosa, linda, pequena,
sim, maior que eu.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;">Me sinto quase triste<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;">quando chega o outono<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;">quando a grama se acinzenta<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;">quando as árvores se desfolham.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;">Me sinto tão fria<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;">no inverno me escondo<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;">me recolho, me afasto<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;">das tempestades do mundo.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;">Me sinto quase linda<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;">Eis então a primavera<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;">nem mais frio nem quente ainda<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;">chuva nova, verde renascendo<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;">ar gostoso de respirar.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;">Me sinto tão quente<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;">no verão tempo de areia, de mar<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;">estação de sol escaldante<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;">de deixar a paixão brotar.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;">Tal folha solta sigo o vento<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;">o calor do verão, a despedida do
outono<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;">o silêncio do inverno, o frescor
da primavera.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;">Me sinto tão tola por ser feita
de estações! <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;">Magda Castro, em setembro de
2000.<o:p></o:p></p>Magda Castrohttp://www.blogger.com/profile/08655232413296349589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3209614029354778648.post-29341827848224306972021-04-01T11:17:00.001-07:002021-04-01T11:22:33.748-07:00<p> </p><p class="MsoNormal">CENAS DE RUA<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Domingo cedo de imprevisto solão mesmo não sendo mais verão.
É outono, de comecinho, ainda chove, menos sim ainda há chuvas, mas o
sol chegou pra estourar mamonas. Foi perscrutando o céu pra ver se havia nuvens
porque dependendo de haver ou não eu decidiria o que fazer do dia que cismei por
alguns minutos escondida detrás da persiana aberta discretamente.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">O portão da casa da frente foi aberto e se segue algazarra de pessoas discutindo o caminho pra pista de ciclista no Sudoeste. Um
casal e uma garota, ouvi os adultos chamando Heloisa. Nome lindo demais, heroína
de romance e bela também a menina. Treze anos? Falando Mamãe e Papai como se
tivesse deliciando a doçura do mundo rindo da mãe embaraçada com o guidom da
bicicleta, a mocinha pedala com ares de bem entendida. O homem se aproxima segurando a própria bicicleta acalmando a
mulher ajeitando o acento. “Experimenta agora, vê se melhorou”.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">A mulher de roupa preta bem justa se encarapita e
sai pedalando pelos dois lados da pista; aposto que cai, não caiu. A menina ri
cristalinamente. O homem espera que as duas mulheres avancem na frente e as
segue decidido. Fico olhando os três desaparecerem no fim da rua enquanto as
risadas vão virando sussurros.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Ao abrir a janela, finalmente, ouvi outras vozes. Uma criança?
Aparecem no meu campo de visão, um garoto montado em bicicletinha e uma
mulher de sombrinha protegendo o menino que resmungava do arranjo. “Tem que ser
assim, o sol está quente demais!” Comecei a rir sozinha: o dia mal começara e já
havia me deparado com tais cenas: de bicicletas, de gente e de amor; do que
senti o dia seria.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Magda Castro<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Brasília, DF, 1 de abril de 2021.<o:p></o:p></p>Magda Castrohttp://www.blogger.com/profile/08655232413296349589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3209614029354778648.post-90374238158740246022021-03-24T13:58:00.002-07:002021-03-24T13:58:17.213-07:00<p><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; text-align: justify;">MUDAR </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; text-align: justify;">É </span><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; text-align: justify;">PRECISO?</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Tudo
começou por causa desse computador estragado: já o havia consertado algumas
vezes. Por último, o T descolou e não consegui botá-lo de volta no lugar. E vai
que o comando de “delete” funciona sem aviso e eu perdia parágrafos inteiros. Voltar
à ideia original? Impossível. Isso sem contar que o monitor havia perdido as
cores e eu usava um de outro aparelho: costumava chamar o conjunto de “meu
Frankenstein”. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Pedi
a minha filha do meio pra vigiar as promoções pra comprar um computador novo
completo. Ela levou uns dias, mas cumpriu a tarefa. Zerei a poupança, comprei
ingredientes prum almoço e juntamos quatro mascarados pra levar a tarefa de
mudar os programas a cabo. E inventei de mudar também o cômodo do escritório: me
pus a descascar, emassar e lixar paredes. Digo que “mudar” pode permitir a “achar
os buracos dos ratos”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">No
dia marcado, eu quase terminei uma das paredes. Carregar livros, descartar lembrancinhas
desmemoriadas e CDS obsoletos, digo, por falta de aparelho pra tocá-los e
montanhas de papeis que perderam totalmente o sentido levou o dia todo. Ainda restam
“coisas” em geral separadas ao longo das paredes, uma delas exibindo gloriosos traços
de massa-corrida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Quando
a lida maior parou, tranquei a porta de saída depois que os ajudantes partiram
pras próprias rotinas, juntei a louça suja na pia, tomei banho muito quente pra
aliviar o cansaço e me esparramei na cadeirona velha, que preciso consertar,
finalmente, com a intenção de (re)conhecer o lindo aparelho novo. E queria
escrever.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Mas,
quá, na penumbra da noite caindo, não consegui enxergar os sutis traços brancos
sobre teclas negras pra catar letras e símbolos de acentuação: o circunflexo, então,
nem hoje o localizei. Optei por assistir a séries que há algumas começadas. O texto,
escrevi agora de tarde depois que botei ordem em mais alguns móveis e “coisas”.
Terminar a mudança? Ainda demora; e, passar a escrever no teclado novo vai me
custar algumas adaptações. Enquanto isso, vou escrevendo, e consertando os
erros, no computador antigo; paciência, repito comigo enquanto tranço a casa de
cima a baixo: um dia me acostumo. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Ainda
não achei buraco de rato; poeira? Montes: vou domando pequenas partes aqui e
ali. Estranhamente, essa bagunça toda pra mudar me lembra: mudanças em relacionamentos
compensam o “preço” pago? Caso a pensar...<o:p></o:p></span></p>Magda Castrohttp://www.blogger.com/profile/08655232413296349589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3209614029354778648.post-61416950340543597982021-03-11T06:07:00.003-08:002021-03-18T07:51:38.514-07:00<p><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;">MEMÓRIAS DE TERNURA</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Antigamente, vivíamos nesta casa, dez
pessoas. Espalhados entre os quartos na hora de cada um sossegar, o
lugar predileto de nos reunirmos era a mesona da copa-cozinha. De oito lugares,
tamboretes completavam a conta e nos espremíamos uns aos outros pra saborearmos
a comida gostosa demais que a Déda ia trazendo. Acho que por isso, terraço,
varanda, salas eram inúteis nesse momento: a proximidade com o fogão, e a Déda,
nos mantinha ali juntinhos. Era uma algazarra de gente falante; claro que eu
falava mais que era a hora do sermão porque não se deixava nada pra depois
naquele tempo tanta correria pra todos. Mesmo assim, eram momentos de ternura e
apreço. Ali, pai e mãe tinham lugares marcados, e apenas; quem chegasse
primeiro escolheria onde se sentar. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Hoje em dia, que todos escolheram outros
caminhos, faz tempo que já somos um. Vez ou outra, dois; mais raro ainda </span>é<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"> sermos três. E isso aconteceu ontem:
com o tempo anunciando tempestades, a copa-cozinha acolheu grata três alminhas
pr’um almoço caseiro. Não que eu saiba cozinhar, mas botar água no feijão, sei,
mesmo porque a comida não era o motivo do encontro. Espalhadas pela cidade,
essas alminhas arrombaram a porta dos fundos num ultimato </span>à<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"> saudade que vem nos afligindo há mais
de ano. Ato de revolta, diria, com os devidos cuidados, a mãe de hoje se senta
o mais longe possível das duas beldades encantadas que acordam as paredes com
gargalhadas. Uma delas atendeu ao celular da outra e fez de conta que era a
namorada do moço que chamava. Duas irmãs tão diferentes hoje que costumavam
pregar peças até no pai tão parecidas eram as vozinhas de criança; ao que
pareceu não ser tão mais assim agora. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">O moço telefonador desligou na hora que
achou tinha ligado errado; ligou de novo rapidinho: a namorada ensinou pra irmã
como deveria atender ao telefone para enganá-lo. O rapaz titubeou, mas
continuou a ligação enquanto as risadas se misturavam uma </span>às<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"> outras. De risadas passamos a gargalhadas:
uma mostrava dentes perfeitos na bocarra escancarada, eu escondia os dentes
partidos, a namorada soluçava de rir. Até que se identificaram corretamente,
rimos a bandeiras despregadas; e o namorado entrou na festa assim que foi
colocado a par de toda a história.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Depois de comer, cada uma voltou ao próprio
canto ainda na correria pra chegar em casa antes da tempestade. Eu, no agora silêncio
de novo esperava que meu coração se aquietasse pra retomar </span>às<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"> rotinas de alma solitária. Alma solitária,
repito, não penada, muito menos infeliz. Impossível sentir algo diferente de felicidade
quando memórias de passado e presente se sobrepõem tão perfeitamente; tanta
ternura!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Brasília, DF, 11 de março de 2021.</span></p>Magda Castrohttp://www.blogger.com/profile/08655232413296349589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3209614029354778648.post-70715230432277296032021-03-05T12:08:00.004-08:002021-03-05T12:13:49.146-08:00<p>À ESPERA DA CHUVA</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Troquei as roupas de cama, toalhas e tapetes. Podei as
folhagens, montei vasos novos. Limpei a geladeira, renovei verduras e frutas.
Sim, tem suco, água e café, biscoito Maria e manteiga; e macarrão e queijos pra alta
madrugada de conversa fiada. Esvaziei as lixeiras, todas elas; preparei os
recicláveis, os juntei todos já no carro, acabei de trocar o óleo e calibrar
os pneus, prontos pra levar às estações de coleta. Lavei parte da roupa suja, a
mais fácil, passei algumas peças; recoloquei panos de prato e toalhas de mesa
nas gavetas da cozinha. Revi os armários de louças, copos, tudo em ordem.
Limpei vidros e espelhos, troquei lâmpadas. Ainda tenho um vinho; chequei a playlist com músicas de piano: vou botar pra tocar baixinho num canto da casa. E espalhei perfumadores de ambiente pra
todo lado; acendi incenso de sândalo. Ah, as orquídeas estão em flor. Você já
pode chegar!<o:p></o:p></p>Magda Castrohttp://www.blogger.com/profile/08655232413296349589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3209614029354778648.post-14636567579833086292021-03-04T07:37:00.006-08:002021-03-04T08:06:17.507-08:00<p><span style="font-family: times; font-size: medium;">O <span>COVID-19 E O GADO</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Até ontem à noite, o
total de mortes no Brasil por causa da contaminação do Coronavírus (COVID-19) beirava a 260.000; no mundo todo, 2.500.000. O número de pessoas contaminadas passa de 114.000.000.
Noticia divulgada em 04/03/21, 9:39, há 30 minutos na Internet: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Coronavírus hoje: Brasil volta a bater
recorde de mortes e caminha para um colapso generalizado do sistema de saúde.”<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Observando o gráfico divulgado
pela BBC News Brasil, é possível identificar que em alguns lugares do globo
terrestre, a contaminação está regredindo e em outras regiões está avançando. O
que é preciso considerar é que são estáticas, logo, há desvios como
fornecimento precário de dados ou incapacidade técnica ou intencional omissão,
por razões diversas, inclusive politicas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">No Brasil, o governo federal
é fonte de desinformação pra não dizer irresponsabilidade no trato com a
pandemia. Nos primeiros meses de avanço da doença, havia certa tranquilidade
quanto à capacidade de enfrentamento do problema, mas as dúvidas foram tantas e
as informações foram tão deturpadas que grande parte da população se posicionou
contra qualquer medida que os órgãos realmente atuantes tenham solicitado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Para seguir o
comportamento permissivo e irresponsável do líder da nação, vários seguimentos
sociais se posicionaram abertamente contra o isolamento, contra as vacinas e
tudo o mais que se disse de reconhecimento do grande risco que significa essa doença.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">“Se não se aprende com
o amor, se aprende com a dor”, já me diziam parentes sábios; prova disso está
a olhos nus agora. No estágio atual da tragédia, que muitos ainda consideram brincadeira,
a composição de muitos fatores não leva a alimentar esperanças. Mas essa já rondou
quando a vacina foi finalmente liberada: vi gente com olhos cheios de água
tanta alegria. A alegria já acabou e a pandemia não.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Continuamos isolados,
os que se comprometeram, mas nem isso é mais garantia de segurança quando o vírus
avança livre e faceiro adquirindo mais e mais força por não encontrar barreiras
que o detenham. O COVID-19 continua destruindo vidas, e, se por um
lado os leitos, e profissionais de saúde, não são suficientes para atender aos
doentes, por outro, a vacina patina entre joguinhos infantis de poderes político e capitalista: perdemos em todas as frentes; palmas pro Corona vencedor! <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Perdidos entre a inércia
de quem deveria estar estourando os últimos cartuchos pra frear essa tragédia exaustivamente
anunciada e a falta de todos os grandes e pequenos recursos para vencer a
praga, os cidadãos se tornam mera estatística; gado, como li um cientista nos
rotular ao “explicar” a situação no Brasil. “Vida de gado”, já cantava Raul
Seixas, verdade maior que nunca.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">É quase hilário pensar
que se fossemos mesmo “bois” poderíamos estar a salvo do perigo. Ocorre que nem
isso é alivio quando está claro que no “pasto” nem há “peões” de determinação e
coragem<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“tocando o gado.”<o:p></o:p></span></p>Magda Castrohttp://www.blogger.com/profile/08655232413296349589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3209614029354778648.post-62790058681263149302021-03-01T07:25:00.006-08:002021-03-01T07:57:04.274-08:00<p>CERTO VERDE OLHAR</p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Quando
o conheci não percebi,<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">não
tão profundamente,<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">que
novo amigo chegava<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">e nem tão de repente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Lhe
falei de coisas do meu coração,<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">contei
segredos de minh’alma.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Você
ouviu com tamanha atenção<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">como
se de tudo eu soubesse então.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Achei
que seria só por uma noite, <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">que
de manhã iria embora.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Vê
quão pouco sei?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Você
está aqui ainda agora<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">com
esse seu olhar me perguntando</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">sobre
a vida, o amor, o mundo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">O
que posso lhe dizer?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Também
estou buscando!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Ainda
este olhar tão verde<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">que
me olha indagante<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt;">à</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> espera de singela palavra<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">que
o ajude a ir adiante.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Não
me pergunte, não sei.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Sobre
o amor? você não iria entender<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Sobre
a vida? só você pode saber</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">qual caminho onde andar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">A este seu olhar indeciso<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">com
tantos rumos à frente<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">digo: “para fazer o que não sabe<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">faça-o
vagarosamente”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Ainda
este seu verde olhar<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">do
amanhã quer que eu diga.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">“Não
pule o hoje”, respondo<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">“para
não perder nada da vida”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Ainda
seu verde olhar me pergunta<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">o que sou, o que mais penso.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Com
meu olhar no seu respondo:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">“apenas
uma mulher tentando <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">não
se perder nesse oceano imenso”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Ainda
este seu olhar<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">tão
verde, tão calmo<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">vem
em minha direção.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">“Não
me pergunte mais!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">nada
mais sei: perdão!”<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">“Nada
sei mais, caro amigo;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">não
depois destes seus olhos<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">tão
verdes a me olhar<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">verde
fundo como o mar.”<o:p></o:p></span></p>Magda Castrohttp://www.blogger.com/profile/08655232413296349589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3209614029354778648.post-23701520537209867182021-03-01T06:30:00.002-08:002021-03-01T08:01:40.748-08:00<p style="text-align: left;"></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">DE MEDOS E REDENÇÃO<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Vez
ou outra me pego covarde. Não a covarde de fugir da raia, principalmente em
relação a desafios externos, como disputa de vaga de emprego ou de
estacionamento, mas covarde em encarar meus medos, os mais poderosos. Acho que
essa é uma das vantagens da maturidade: a experiência é tanta e, em tantos e
diferentes aspectos, que a gente já consegue guardar o medo bem escondido, pelo
menos, até que não seja mais possível evitá-lo, por exemplo, quando algo de
repente faz as pernas tremerem. Nessas ocasiões, respiro fundo, conto até dez,
hoje em dia consigo contar até dez, penso numa situação bem diferente e, alívio,
boto os bois na linha de novo: volto ao porto seguro da calma.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Hoje
de manhã, manhã linda de primavera, e ainda domingo, fiz uma lista, junto com
minha filha mais velha, de coisas básicas que precisávamos em casa, manteiga,
gelatina, banana... gelatina gosto de preparar no balcão da cozinha. Ponho duas
tigelas, duas colheres, dois pacotinhos de pó, de preferência vermelho, meço e
aqueço a água e boto os dois netinhos para mexer o líquido colorido até
desmanchar os pequenos grãos; eles gostam tanto do doce quanto da brincadeira.
Dai, compro diferentes sabores e os preparamos juntos preferencialmente em tardes
de preguiça.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Bem,
então, fui às compras num domingo de sol de primavera, tudo de bom! Outra coisa
é que troquei de óculos. Pressionada pela renovação da carteira de motorista –
a médica pediu laudo de oculista – tive que fazer consulta de urgência. Nem pensei
muito: dou aulas longe de casa, o que faria sem carteira de motorista? E cega? Foi
aí que fiz novo par de óculos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Ignorância
é coisa triste: pensando estar abafando, ou seja, achando que meus problemas se
resolveriam com a nova armação de óculos, escolhi uma grande ‘para combinar com
minha cara de bolacha’. Medi aqui e ali, as lentes foram mais caras que meu
salário do mês e quando busquei, ficou horrível. Mesmo assim, resolvi usar a
coisa para me acostumar. ‘A gente se acostuma com tudo’, diz minha mãe. Taí, pensei
que ficaria linda usando óculos grandes, risos, pode?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Daí
foi que nesse domingo de manhã de primavera fui fazer compras usando os ditos óculos
enormes me sentindo entre contrariada e decidida, fazer o quê? E, bum, na frene
do açougue ouço meu nome: ‘ei, dona fulana’. Dona? O ex estava virado para mim
com as mãos apoiadas num carrinho lotado. Percebi que apesar de óculos serem
enormes eu continuava sem ver muita coisa: não tinha percebido o homem a
centímetros de mim. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Ficamos
indecisos se dávamos os tradicionais dois beijinhos dos dois lados do rosto,
mas por fim nos beijamos quase como cena de teatro: ensaiado, por pura
convenção. ‘Uai, passou o final de semana na cidade?’ ‘É, teve a festa de
confraternização do trabalho. Estou comprando linguiça de frango para o almoço,
vou fazer um arroz com aquele alho. Você já experimentou o alho que deixei
lá?’. Hum, muitas explicações: campainhas, blim, blim! O final de semana na
cidade, hoje é domingo e ele não apareceu ontem, ninguém ouviu falar. Festa
ontem? Hum, blim, blim. ‘A morena não quis vir almoçar comigo, disse que ia pro
clube com amigas’. ‘É verdade, ela saiu cedo’. Blim, blim! A filha não deixaria
o pai almoçando sozinho num domingo por causa de clube. Uai, mas o que isso tem
a ver comigo?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Terminei
as compras, fui embora o mais rápido que pude porque passava do horário de dar
o almoço da mamãe; minha filha mais velha tinha ficado cozinhando. Em casa, vez
ou outra, pensava na cena do mercado. Ontem mesmo, conversando com uma nova amiga,
colega da faculdade, pessoa iluminada, ela me perguntou por que não tinha
namorado – bondade dela não mencionar minhas rugas – e eu saí com uma resposta
tipo ainda gosto de alguém; mas não só por isso: os homens estão raros hoje em
dia. Bons homens, que combinem comigo, outro jeito de dizer: homem que goste da
mulher que sou. Ela retrucou: “não é porque você está com o coração fechado?” “Pode
ser, mas eu saio, tenho amigas, vou ao cinema, saio para dançar. E, sabe, não
conheço homem algum em quem eu confiaria hoje em dia; é que perdi a confiança.
Gostar, gosto mesmo sabendo como são difíceis, mas meu ultimo relacionamento me
custou tudo que tinha, só me sobrou a capa do Batman,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Risadas. “Além disso, hoje em dia não conheço
ninguém que poderia me dar o que eu quero”. “E o que você quer?” <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Ah,
pergunta triste essa! Muitas vezes respondo que não sei o que quero. Essa é uma
das minhas fugas; a verdade é que sempre quis que alguém gostasse muito de mim.
Depois, queria alguém em quem acreditar nas palavras, nos ideais, nas opiniões.
E, alguém com sonhos é bom demais de amar, combina com quem também tem sonhos.
Depois queria um homem que olhasse no meu coração. Daqueles que numa segunda de
manhã, ao me ver atravessando o umbral da porta, só de me ouvir dizer ‘bom dia’
me perguntasse porque eu estava triste. Acreditem! Isso aconteceu e me assustou
demais! Primeiro porque o rapaz parecia jovem demais para descobrir uma coisa
em mim que eu mesma não sabia! O segundo motivo do meu susto foi imaginar onde
é que eu andava que não sabia de homens assim?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Então,
esse rapaz não seria um bom partido? Ótimo; para uma mulher trinta anos mais
jovem. Invejo a mulher que ficar com esse moço. O pior é que ele ainda pode
encontrar uma boa bisca: é que a vida não é justa. Risadas. Estávamos voltando
de almoço oferecido pela faculdade onde trabalhamos: comemoração do dia dos
professores; sábado bom demais!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Daí
foi que a visão do supermercado quase estraga meu domingo. E como! Passei parte
da tarde, mesmo no meio das tarefas, o almoço e o banho da mamãe, guardar as
compras, lavar a louça com a visão grudada. O engraçado é que sempre fico
vasculhando o que fiz de errado: foi meu peso? Não, eu era muito magra quando
ele me conheceu e mesmo assim me aprontou. Fiquei sem aquele emprego bacana? Se
era por isso, então foi bom ele ter ido embora, né não? Foi porque envelheci?
Ele também envelheceu, e se é por isso ele nunca quis ficar de verdade, não é? <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Sinceramente,
tem hora que gostaria de nem ter cérebro tantas são as perguntas que me pululam
na cabeça. Reconheço que minha autoestima está em zero, mas também reconheço que
o estrago foi grande. Me lembro dos primeiros minutos depois da separação,
depois os dias, as semanas, meses, anos. Já faz tempo demais para eu ter
problemas desse tipo ainda; me irrito. Ele já superou, está em outra. Me irrito
mais ainda porque não controlo esses sentimentos. Depois fico arranjando explicações
para o fato de estar sozinha: orgulho ferido, falta de opção, não há nada que
eu possa fazer... respostas vazias. Para diminuir o desconforto, repito vezes
sem conta, o “mantra”: ‘ele não me ama, ele não me ama, ele não me ama!’. Quero
parar de pensar nele, nas vezes que me feriu, quero me libertar, mas, bolas, fosse
simples assim, já teria conseguido. ‘Quero ele de volta?’ me pergunto pra ver
se levo um susto e paro de pensar no assunto. ‘Que Deus me proteja!’<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Chegou
a tarde do domingo. Por um momento me distrai, arrumando badulaques no quarto.
Ainda me lembro de que jamais fez diferença para ele o que eu usava ou não:
nunca elogiava, mas perguntava o quanto eu gastara nisso ou naquilo. ‘Mais
mágoa, deixa prá lá, moça, o sujeito nem lembra que você existe!’ E é verdade,
a mais cristalina delas!<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É repetindo mais
esse refrão que descubro uma abelha na janela do banheiro. Com pena da
bichinha, pego a toalha de rosto e a empurro devagar para a janela. Ela voa
depressa quando encontra a saída. Aproveito a carona para empurrar para fora
também: ele voa até o céu cinzento de uma chuva que deveria lavar o mundo, e
que vinha perto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">E
veio depressa a chuva grossa, mudou o tempo repentinamente. O vento, muito
fresco, começou a zoar pelas frestas: tarde especial com cheiro de vida nova.
Meu coração estava mais calmo ao acompanhar a enxurrada que se formava na rua.
Fiquei olhando pela janela até cansar; e desci para preparar um café. O cheiro deu
ideia de aconchego e calor. Este era um dos meus medos mais profundos, do que
falei no começo: ficar sozinha na velhice. É que eu pensava noutra perspectiva,
a solidão. Mais perto dela agora, vi que não é tão terrível como imaginei. Isso
me sossega também em relação ao amor que tenho no coração. Há muitas formas de
amar; há tantas formas de felicidade! O que sei é que não há como saber o que
vem ai pra gente. Então, fico contente com a tarde de domingo de chuva forte.
Viajei para uma terra distante onde brincava na enxurrada num tempo em que não
tinha a menor ideia do que seria minha vida. É exatamente a mesma coisa agora:
tudo o que tenho que fazer é fazer o melhor que puder. Hoje; agora! Não controlo
meu coração, imagine controlar o mundo!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Com
esses pensamentos, sentindo o cheiro das plantas molhadas no jardim de inverno,
servi o café a minha mãe ainda sonolenta do cochilo de depois do almoço. Em
seguida, a levei à poltrona predileta na sala. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Então, o que fazer numa
deliciosa tarde de domingo de chuva? Um sofá, colcha cheirosa e macia, a xícara
de café quente e um bom filme! Quer melhor?<o:p></o:p></span></p><br /><p></p>Magda Castrohttp://www.blogger.com/profile/08655232413296349589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3209614029354778648.post-46596428478189777012021-02-27T09:55:00.001-08:002021-02-27T09:55:16.994-08:00<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">DE JABUTICABAS E OUTRAS VICISSITUDES<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">É por causa do tempo; tudo culpa dele. Esse
gentil fidalgo, não assusta: age em silenciosa quietude e nos cabe vigília se o
queremos entender, ou não o perder. Nada se perde, afinal, descubro na altura
de meio século de experiências que as coisas se transformam imperceptivelmente
quando as estamos olhando, e, repentinamente, quando, por breves momentos, o
olhar vaga por outros alvos. A transformação acontece, seguidamente; a
percebemos, entretanto, de acordo com a distância que estamos dela.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Vi que algumas coisas mudaram na pequena
fazenda do tio que visitei meio tortamente ontem. Tortamente porque eu vinha de
outras paragens, de passagem, e não havia me preparado para aquela visita. A
casa é a mesma; é o mesmo o matinho duro que acompanha a grama rasteira; isso
não mudou. Não, e, ainda são os mesmos o pé de mangas docinhas do quintal da
cozinha e os de jabuticabas. Agora, o pomar mudou de lugar e há outra cerca,
apesar de que a de agora parece tão velha como a de antigamente. O curral
sofreu cirurgia remodeladora completa e foi construído um galpão que parece
muito velho, acho, desse não me lembro. Ele não esteve sempre ali?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Lembrança é coisa esquisita: a gente olha o
que pode ver hoje, mas a imagem do passado se sobrepõe e daí não há como
separar o real do lembrado. Me contento em saber que lembro de coisas que
existiram um dia e mesmo que não existam mais, há coisas muito boas também que
existem apenas hoje e que fazem desse dia que acontece um dia bom também. Por
que não? Não é somente o passado que pode nos trazer doçuras e conforto. O
presente de tão eternas coisas sempre diferentes pode trazer alegria; e ainda,
de quebra, o doce sabor de ter vivido coisas muito especiais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Não foi diferente o carinho do tio depois que
ele se levantou de um cochilo. Tinha tido visitas por todo o final de semana e
o cansaço bateu, claro, domingo de tarde, bem de tarde mesmo, já na penumbra
das sombras compridas de noite célere. Ele foi me encontrar ao pé da
jabuticabeira para onde corri assim que cheguei. E como antigamente, me
misturei ao zumbido de besouros, pernilongos, borrachudos. Como sempre, levei
picadas de aranha e ataques em massa de mosquitinhos Maruins.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Enquanto saboreava as deliciosas “pretinhas”,
o pensamento pulava de canto a outro e eu esticava o olhar por paragens que não
estavam mais ali. Em criança e já mocinha, vinha para os feriados e férias.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Não fui criança fácil: desgrenhada, mal
cuidada, ignorante, dava um trabalhão danado à tia para trocar meus lençóis
quase todas as manhãs; sim, há também lembranças ruins. Me lembro também de
ajoelhar, a noite, sempre que acordava molhada e bater a testa no chão,
implorando silenciosamente que aquilo parasse. O médico do colégio disse que eu
não tinha doença física nenhuma. Além disso, sentia frio; podia fazer o calor
que fosse, dormia com duas cobertas grossas de tear; acho que por isso tenho
uma guardada para ser usada na casa da Serra, quando ela mudar de ser sonho
para ser real. Mais tarde, já adulta, um Psicólogo sugeriu ser “carência
afetiva”, o problema. Rio disso, mudo de jabuticabeira e pergunto pro tio como
vai de saúde.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Enquanto ouvia que estava bem, escolhia as
jabuticabas maiores, por entre a fartura delas grudadas nos troncos. Falei que
tinha maravilhosas lembranças dali: as noites eram mágicas, no sentido literal,
porque ele contava história de assombração e a criançada fixava os olhos na luz
da lamparina do centro da mesa com medo da penumbra do resto da casa. Ir para o
quarto era preciso coragem: passo a passo, com a mão em concha para evitar que
lufada fantasmagórica de ar entrasse por uma das grandes janelas, apagasse a
língua de fogo e nos deixasse aos caprichos das almas penadas. Mas ao redor da
chama, ainda na mesa, havia sempre cada um a seu tempo, ou mingau de milho
verde e pamonhas ou peneiras de pipoca, uma de doce outra de sal. Meu tio ria
de mim; era minha vez de contar histórias.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Relembro que em meio à criançada comendo
pipoca e ouvindo histórias de arrepios e sussurros as noites de minha infância
não eram noites vazias. Seja pela comida saborosa da tia, de panelas fumegantes
transbordando de comidinhas cheirosas, seja pela especial sensação de aconchego
e proteção, aquele sítio foi um dos paraísos entre os quais tive o privilégio
de crescer. Amei com todas as forças de meu tão tenro coração as pessoas que
faziam parte daquele mundo: tia, tio, primas; que, lamentavelmente, hoje estão
dispersos em razão de vicissitudes que acontecem a todos nós.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Naquele lugar eram sagrados os passeios à
mina d’água, a travessia do Marmelada, as caminhadas poeirentas até a porteira.
Eu não tinha muita habilidade com os animais, tinha medo deles ao contrário. Um
dia, estávamos catando macaúbas pelos pastos; éramos quatro meninas. As vacas
foram soltas do curral depois da ordenha e, acho que porque estávamos fazendo
muita algazarra, uma delas veio bufando diretamente pra nós. Foi aquela cena de
“salve-se quem puder!” voou menina pelo pasto todo e me sobrou o rumo da cerca
do terreiro. De madeira, em ripas sobrepostas, a cerca deveria ter umas cinco
tábuas que galguei usando apenas os pés. Como um trapezista, acho que minhas
mãos estavam ocupadas com os cocos ou o vestido porque não lembro de usá-las
para me segurar enquanto escalava as tábuas e pulava, segura, do outro lado. A
vaca ficou lá decepcionada, sozinha, olhando pra mim. Logo depois, as meninas
se reuniram, tremendo que nem varas verdes, embaixo do mesmo pé de manga da
porta da cozinha. Lembranças que contei, rindo, pro tio nesse domingo
entardecente. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Voltando pra cidade logo depois, cada passo
que dei rumo à saída foi saboreado; não havia o que lamentar, descobri, eu
estava ali, e meu passado junto; ainda me voltei umas duas vezes olhando a casa
e o quintal de longe. O que havia de mais novo era um cimentado ao redor do pé
de manga, mas tiveram o cuidado de deixar os balanços, agora um pouquinho mais
modernos, pendurados nos galhos antigos. Ah! Esse está lá, murmurava baixinho
enquanto me prometia fazer mudas de suas sementes quando as mangas estivessem
maduras... já estava escuro quando abri a porteira do alto; essa diferente,
amarrada com uma corda de modelo que não existia naquele tempo. Meu irmão
encostou o carro para que as visitas passassem na frente. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Se aproximam as chuvas, mas ainda não
chegaram de verdade, então, há poeira ainda. Foi gentileza dele já que o jipe
iria levantar uma nuvem suja por cima do carro menor. A mesma estrada, penso, a
mesma curva para a esquerda e daríamos na cidade... Engraçado como me lembro
dos limites: à esquerda o caminho era conhecido, à direita, entretanto, não me
atrevia a imaginar aonde ia dar; infinita incógnita; aterrorizante caminho
estranho, e sobre o qual jamais perguntei coisa alguma. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Agora é que me bate essa reflexão: aonde esse
caminho me levaria se tivesse seguido por ele? Bem, acabou-se o tempo de
aventurar a descobrir caminhos ainda que esse que tomo agora parece menor, mais
estreito do que me lembro. Antigamente o matagal se fechava no alto das
passagens dando calafrios nas espinhas infantis. <o:p></o:p></span></p>
<p><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; text-align: justify;">Ah! Isso, no fundo, não importa. O que
importa é que o caminho que escolher, de agora em diante, seja aquele que me
levará aonde quero ir; fui pensando pela estrada afora enquanto ainda sentia na
boca a doçura das jabuticabas.</span> </p>Magda Castrohttp://www.blogger.com/profile/08655232413296349589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3209614029354778648.post-898656007890337452021-02-26T09:01:00.003-08:002021-02-26T09:01:50.174-08:00<p><span style="font-family: "Times New Roman", serif; text-align: justify;">DESPEDIDA DE SOLTEIRO</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">A festa do tipo “boca
livre” com fartura de comida boa e cerveja gelada comemora quarenta anos de
casamento dos pais de quatro jovens ali nascidos e criados conhecidos
companheiros de fugas para o rio, de galinhadas na madrugada, de times de
futebol e vôlei, passeios pelas redondeza. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">O salão está apinhado
de amigos, parentes, políticos, fazendeiros, celebridades, anônimos, todos parte
da família. As janelas até o teto alinhadas às longas paredes escancaram a
noite quente do alto janeiro. Mesas redondas estão decoradas com vasos de mini
rosas naturais e botões coloridos. Toalhas de cetim adamascado seguem as cores
das tiras largas penduradas do teto ao chão imitando tenda de circo. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">A banda toca músicas
de todos os tipos e casais tentam acompanhar a sucessão de diferentes ritmos,
numa mistura de risos, batidas de instrumentos e pisadas no chão encerado. Um
som mais romântico leva para a pista maridos e esposas; a balada traz dançarinos
que começam em duplas e terminam em bandos desarticulados, e felizes. Qualquer
música mais conhecida faz com que a pista se transforme num pandemônio de
pessoas se divertindo; juntos, dançam sem constrangimento ou coreografias avós,
pais, filhos, primos. Sempre que uma música termina, as palmas fazem eco com
gritos de "Mais! Mais!". <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Vez ou outra, aparecem
brincadeiras como as danças do chapéu e da vassoura. De feltro marrom escuro com
fitas em azul e vermelho terminando em bolas douradas tilintantes, o chapéu passa
de cabeça <st1:personname productid="em cabeça. O" w:st="on">em cabeça. O</st1:personname>
homem que o recebe cede a dama com quem dança; alguns fazem de conta que estão zangados
e todos saem rindo e dançando.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Na dança da vassoura,
as mulheres escolhem o par; proibido recusar convite. Dessa vez, até as mais
recatadas puxam para o salão jovens e cavalheiros, casados ou não, de
preferência, um "pé de valsa". <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Comida boa, salão
lindamente decorado, música inebriante, bebida com fartura e o calor da noite
não deixam espaço para que ninguém fique de fora da festa. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Recostado a uma das pilastras
redondas, um rapaz moreno de olhos verdes encravados no rosto de ossos grandes
e salientes observa o burburinho segurando displicentemente uma tulipa alta pelo
meio de cerveja gelada. Veste camisa polo marrom de riscas horizontais, o que quase
lhe confere um ar ameaçador. Parece tomar fôlego das brincadeiras quando dançou
sem parar; e repensa detalhes. Em especial, o da moça que o convidou: esguia, rosto
com suaves marcas, encantadoras, de acne, longos cabelos negros cheirando a
flores, vestido azul com pequenas estampas geométricas indecifráveis à
meia-luz. Os braços roliços e fortes seguraram com firmeza o rapaz nos muitos
passos e o casal pareceu outro enfeite da festa, tanto, que os demais
dançarinos deram espaço e evitaram incomodá-los com vassouras ou chapéus por
várias danças.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">O rapaz se lembra que
se separou dessa dama apenas no intervalo pedido pela banda; e do olhar direto
e firme que recebeu em silencio na despedida. Sorri para si: “tão bom isso
tudo!” Contente, dá voltas pelo salão lotado. Cadeiras sendo arrastadas, murmúrios
de cansaço, pessoas se abanando, risos: o jovem abraça e beija mulheres ou
crianças, faz elogios, dá tapinhas nas costas dos homens. Circula desenvolto:
está em seu lugar, aqueles são os seus amigos e aquele é o mundo ao qual
pertence.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Anunciam o discurso
do marido agora casado de novo. Emocionado, o homem sobe ao palco e já embalado
pela cerveja, fala, ri e chora. A cada frase, gritos simulam vaias para disfarçar
a emoção. Ele chama a esposa, se ajoelha, pede-lhe perdão e jura amor eterno. Com
olhos brilhantes, ela o acolhe num abraço roliço e enrugado parecendo conter toda
a paz do mundo; todo o abrigo do mundo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">A emoção quase vira lágrimas,
então, um dos filhos passa a apresentar os nomes dos presentes e dos ausentes:
todos que fazem parte da história de amor que agora se renova. Um ou outro convidado
também parabeniza os novamente recém-casados até que alguém chama para o bolo;
a banda volta ao palco e a festa recomeça.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">O rapaz moreno é
envolvido por matronas e moçoilas que o conhecem como bom dançarino. Enquanto a
música toca, mal consegue surrupiar alguns copos de cerveja. Por duas dessas
vezes, vislumbrou a moça de azul dançando com um rapaz bem vestido parecendo
muito à vontade. Mais tarde, no caminho para o banheiro, ao sentir o perfume de
flores, ouve uma voz: "você é casado?". A resposta e firme, rápida:
"não"; e a voz desaparece. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Distraído pela
alegria, pelas brincadeiras e flertes, o jovem fica na festa até o ultimo acorde.
Sai sozinho dirigindo o carro por ruas vazias. Se sente feliz tanto pela festa
boa quanto pelo final de noite silencioso. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“Ah, vou dormir até o meio dia amanhã; tão bom
estar de folga!” Lembra-se que tinha telefonado para o pai dizendo que viria e
esse disse que ficasse a vontade: ia pescar. Perguntou da família “Não, vou
sozinho.” <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Sim, não falou pra ninguém
em casa sobre a festa: queria se divertir, fugir da rotina. Estava cansado de
problemas, queria ficar livre naquele fim-de-semana para fazer o que bem
entendesse.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Rastros de luz do
amanhecer pontuam o céu quando o rapaz para o carro em frente à casa do pai. Os
faróis fazem contraste com o resto da escuridão: a penumbra não lhe permite ver
o vulto que se aproxima; sente perfume de flores. Ainda no carro, recebe um beijo
no rosto e outro na boca. O vulto se esgueira ate pequena varanda; espera em
silêncio que o rapaz trêmulo estacione o carro e encoste o portão. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">A porta da casa é aberta
por dois corpos de lábios colados com pausas apenas para respirar; do lado de
dentro, um pé a arremete com estrondo ao portal. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">O sexo, o primeiro, acontece
entre a mesinha de centro e o sofá duro e quente em meio ao lusco-fusco da manhã.
Não há tempo para pausa: os lábios continuam percorrendo corpos nus e suados
entre gemidos e gritos. A segunda vez acontece na cama mais próxima. Num frenesi,
tudo se repete muitas vezes até que adormecem exaustos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">“Que calor!’ Pensa o
jovem acordando. “Será que é meio dia já?”. Se lembra imediatamente da noite anterior:
vê que está sozinho na cama estreita. Raios de sol atravessam fenda discreta da
janela basculante entreaberta. Recosta-se aos travesseiros suspirando
satisfeito ao lembrar-se das últimas horas, em detalhes. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Talvez tenha
cochilado mais um pouco porque num dado momento ouve o pai chamando da porta:
"Filho! Acorda! Seu carro ficou a noite toda com os faróis ligados e talvez
dê problema para ligar. E olha! Não demore! São quase seis horas da tarde e
como você tem que ir embora hoje, vai ter que viajar à noite, coisa que não
gosto”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">O rapaz se surpreende
e isso o desperta de vez. Toma banho, enfias as roupas de qualquer jeito na
mala pequena, daquelas para coisas de academia de ginástica e só ao colocar a
escova de dentes na abertura lateral é que vê o bilhete. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">O coração dispara:
"a mulher da minha vida me deixou o telefone!". Agarra o papel
minúsculo, já imaginando como faria para se separar da mulher com quem vive e
começar nova vida ao lado daquela deusa. Para aproveitar mais a alegria da boa
expectativa ainda abraça o pai e toma café; coloca a mala no banco de trás do
carro. Com o bilhete numa das mãos, apaga os faróis e dá partida ao motor: a
reação parece uma pessoa com raiva; ele entressorri. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Desliga, pisa e solta o acelerador, gira de
novo a chave: o motor ronca forte. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Enquanto deixa o
carro recarregar a bateria, tranca a porta e, devagar, como a espreitar do
buraco de fechadura, desdobra o papel. Não compreende imediatamente. Dobra de
volta, devagar, o bilhete, se recosta no banco, respira fundo: não acredita nas
palavras escritas. Se esforça para ler de novo e só então assimila a mensagem:
"Obrigada pela minha despedida de solteira!".<o:p></o:p></span></p>Magda Castrohttp://www.blogger.com/profile/08655232413296349589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3209614029354778648.post-89755963578504236782021-02-22T12:09:00.004-08:002021-02-23T05:42:34.834-08:00<p> <span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; text-align: justify;">VESTIDA
DE DOMINGO</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">A
oração hoje foi mais longa e a terminei enquanto abria parte das janelas. Hoje
não abri todas nem liguei a música: dia de recolhimento e silêncio.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O universo conspira: o mundo se cala, não
porque está chovendo, ao contrário, o dia é de muita luz. Por que é domingo?
Pode ser.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Separo
o que vestir. Vestido leve, clarinho, com flores e renda. Perfume. E chinelos
que não haverá visitas. Desço as escadas tentando não fazer barulho, <i>clep,
clep</i>, em vão, e corro abrir a porta pro cachorro sair; da minha caçula que
pediu ontem pra cuidar, custa nada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Passo
os olhos pelas plantas: vou trocar o vaso daquele antúrio que já
passou de hora. Cuido do cachorro, das plantas, tomo café e remédios. O vento
está muito forte, silva pelas frestas, balança as pedrinhas do jardim de
inverno. Estranho! Vai levar a chuva embora... ou trazer?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Checo
a comida do dia, ainda há frutas, boto água no filtro de barro. Então, aboletada
na cadeirona do canto predileto da casa, me ponho a cismar: tem um passarinho
cantando longe, mas fora esse, e o barulho do vento, escuto mais nada. Nem a
música liguei. Tao bom o silêncio!<o:p></o:p></span></p>Magda Castrohttp://www.blogger.com/profile/08655232413296349589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3209614029354778648.post-88030463856375073672021-02-22T12:07:00.000-08:002021-02-22T12:07:00.402-08:00<p> TERÇA-FEIRA DE CARNAVAL</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">A terça-feira de Carnaval amanheceu silenciosa: parece todos
os gritos, passos de dança, risos, encontros e desencontros aconteceram até a
véspera. O mundo, aqui pertinho, e além, parece envolto em neblina e quietude. Portas
e janelas ainda cerradas, as ruas vazias, os pássaros e cães quietos como se
esperando o rufar de um tambor para os despertar de sonho. Sonho ou pesadelo?
Reflito, também quieta, e o coração aos saltos, que o sol ainda vai espantar
tantas sombras.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">À mesa do café, aos cochichos, Déda pergunta: “alguém já se
levantou?” Ela tinha chegado há pouco do mercado com sacola de frutas e um saco
de pão fresco, o melhor da cidade. Respondo: “ainda não, ninguém além de mim”.
Ela: “gracinha, ainda estão dormindo”. Repito o “sim, gracinha, todas ainda
dormindo”. <o:p></o:p></p>Magda Castrohttp://www.blogger.com/profile/08655232413296349589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3209614029354778648.post-56064338841355058092021-02-22T12:03:00.002-08:002021-02-22T12:03:40.309-08:00<p class="MsoNormal">TARDES<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Falo muito de manhãs iluminadas, de dias em começos. Bom que
só, cheia de expectativas pelos milagres que viverei. Gosto muito também dos afãs
das “voltas de meio-dia” quando não paro pra ver o que está bom ou nem tanto.
Vou vivendo o que tenho que viver e o dia vai acontecendo assim, eu, de roldão,
quase empurrada.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Quem vê pensa que não, mas gosto muito também de tardes. Os
dias desmaiando, expectativas descansando, doçuras de coisas feitas com tudo o
que tinha que ser feito. Nessa hora, quando as horas não precisam mais ser
vigiadas, gosto de ir fechando janelas uma aqui outra ali, trancando portas,
botando o lixo na rua; e cuido de novo daquela mudinha de flor.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Nas tardes, vou guardando a louça usada, a roupa enxuta, os
restos de comida; e esperanças. A vez de banho, vestido largão, pês no chão
limpinho... estendo a colcha na cama, ajeito os travesseiros. Espreito pela
veneziana entreaberta, às escondidas, o sol fazer a curva do céu sumindo por
detrás das mangueiras gigantes. “Esse ano não foi de tanta fartura como no ano
passado”...mas “tem ‘portância não, vem outro ano aí que vai ser bom”. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p><p>Fecho devagarinho a persiana, os sons amenizam, me volto
para a penumbra de minha ilha agora fora do mundo. “Ah, obrigada, Senhor, pelo
dia bom”, resmungo pras paredes caladas enquanto faço o sinal da cruz. </p>Magda Castrohttp://www.blogger.com/profile/08655232413296349589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3209614029354778648.post-38252658549961727402021-02-22T12:02:00.001-08:002021-02-22T12:02:06.321-08:00<p> SOU TÃO FELIZ!!!</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Essa ideia me ocorreu enquanto atravessava a casa, vindo da
varanda. Estava regando as plantas do pátio da frente, tardiamente porque
acordei tarde, desci tarde, abri a porta da sala tarde. Me surpreendi quando
liguei o tablet: 11:40. Uai, tarde mesmo, mas na hora que deveria ser; e foi.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Reguei as plantas do pátio, do jardim de inverno, da garagem
dos fundos. Algumas estão belíssimas, outras ainda indecisas, mas há já flores
pipocando para todos os lados. Acho que por isso entrei na casa depois dessa
tarefa e achei bom demais o ambiente fresco que me acolheu. Parei, olhei pras
janelas grandes, as paredes altas e claras, a luz, o perfume suave de madeira. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Comecei a rodopiar contente enquanto soltava os cabelos. Vi
que não havia ligado música ainda, companhia de todo dia. Percebi o silêncio:
não há carros na rua? Nem buzinas? Nem cachorros latindo? Os vizinhos ainda
estão dormindo? Tirei os chinelos, pisei mansamente atravessando corredores,
apenas sentindo coisas boas demais! Num domingo espetacular de primavera, o
silêncio. E eu, eu e minha história, eu e minhas cicatrizes, juntas para
sempre. Nunca imaginei que me encontraria num momento como esse. Sou tão feliz!
<o:p></o:p></p>Magda Castrohttp://www.blogger.com/profile/08655232413296349589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3209614029354778648.post-34876155712885326972021-02-22T12:00:00.003-08:002021-02-22T12:00:21.214-08:00<p> <span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; text-align: justify;">SOMENTE
EM TARDES DE VERÃO</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Amanheci
tarde hoje, fui dormir tarde, ou cedo se digo que era 01:47 da madrugada <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>quando desliguei o computador e fui tomar
banho. E dormi. E sonhei. Daqueles sonhos bagunçados sem pê nem cabeça. A
sensação que fiquei no coração foi saudade. Nem me perguntei do que, sonho
assim bagunçado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Acordei
tarde, ainda de camisola corri acudir o cachorro aproveitei pra acudir umas
plantinhas meio perrengues, tirei parte do lixo. Uma pessoa só e tanto lixo e
olha que reciclo, faço compostagem, mas mesmo assim tem lixo, fico contrariada
que ainda não posso aproveitar cada resto. Tomei café e remédios, voltei ao meu
quarto pra me arrumar pro dia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Mesmo
assim o dia estava tímido tanto que desci deixando tudo fechado, depois de
tomar outro banho, esse mais caprichado. Vesti um vestido comportado, com
flores, forro e mangas compridas que a chuva parecia ter vindo pra ficar.
Liguei minha playlist no máximo da caixinha de som e desci preparada para
completar as tarefas já quase meidia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Ia
cozinhar que tinha visitas, uma confirmada, outra desejada. A chuva despencou aconchegante,
botei o cachorro pra dentro que ficou me cercando pelos caminhos da cozinha
aproveitei pra limpar a geladeira enquanto ia fazendo a lista de compras prum
futuro distante que tem comida em penca pela casa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Almoço
pronto, a visita confirmada marcou presença, fiquei observando o rosto lindo muito
sério na outra ponta da mesa. Sob os acordes de Julio Iglesias, Tim Maia, Frank
Sinatra, Barbara e tantos outros, comemos, conversamos, rimos e ela se foi de
novo mascarada enquanto a outra visita despencava mensagens no WhatsApp que
tinha ficado presa no trânsito da vida, não viria, falei que não precisava
pedir desculpas que o almoço fica pronto pra amanhã, tudo bem nem tinha
prometido mesmo coisa de mãe doida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Cozinhar
dá nisso de pias cheias de talheres, pratos, panelas etc. que levei quase uma
hora para guardar comida, lavar... Só depois que subi de volta me lembrei das
janelas fechadas. Parti abrir tudo que a chuva já tinha desaparecido talvez em
viagem pro Saara que o céu espetacularmente iluminado fazendo jus ao verão se
exibia entre nuvens de algodão e o vestido já parecia um pouquinho quente demais.
<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Mesmo
assim, estiquei as pernas sobre travesseiro macio em frente ao computador e me
dispus a descansar, finalmente. Foi aí que a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">playlist</i> selecionou a Voa Liberdade do Jessé. Depois de ouvir pela
segunda vez foi que descobri que eu não estava cantando a letra da música mas a
letra de uma oração.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Isso
assim por ser, talvez, belíssima tarde de verão?<o:p></o:p></span></p>Magda Castrohttp://www.blogger.com/profile/08655232413296349589noreply@blogger.com0