CENAS DE RUA
Domingo cedo de imprevisto solão mesmo não sendo mais verão.
É outono, de comecinho, ainda chove, menos sim ainda há chuvas, mas o
sol chegou pra estourar mamonas. Foi perscrutando o céu pra ver se havia nuvens
porque dependendo de haver ou não eu decidiria o que fazer do dia que cismei por
alguns minutos escondida detrás da persiana aberta discretamente.
O portão da casa da frente foi aberto e se segue algazarra de pessoas discutindo o caminho pra pista de ciclista no Sudoeste. Um
casal e uma garota, ouvi os adultos chamando Heloisa. Nome lindo demais, heroína
de romance e bela também a menina. Treze anos? Falando Mamãe e Papai como se
tivesse deliciando a doçura do mundo rindo da mãe embaraçada com o guidom da
bicicleta, a mocinha pedala com ares de bem entendida. O homem se aproxima segurando a própria bicicleta acalmando a
mulher ajeitando o acento. “Experimenta agora, vê se melhorou”.
A mulher de roupa preta bem justa se encarapita e
sai pedalando pelos dois lados da pista; aposto que cai, não caiu. A menina ri
cristalinamente. O homem espera que as duas mulheres avancem na frente e as
segue decidido. Fico olhando os três desaparecerem no fim da rua enquanto as
risadas vão virando sussurros.
Ao abrir a janela, finalmente, ouvi outras vozes. Uma criança?
Aparecem no meu campo de visão, um garoto montado em bicicletinha e uma
mulher de sombrinha protegendo o menino que resmungava do arranjo. “Tem que ser
assim, o sol está quente demais!” Comecei a rir sozinha: o dia mal começara e já
havia me deparado com tais cenas: de bicicletas, de gente e de amor; do que
senti o dia seria.
Magda Castro
Brasília, DF, 1 de abril de 2021.
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