MUDAR É PRECISO?
Tudo
começou por causa desse computador estragado: já o havia consertado algumas
vezes. Por último, o T descolou e não consegui botá-lo de volta no lugar. E vai
que o comando de “delete” funciona sem aviso e eu perdia parágrafos inteiros. Voltar
à ideia original? Impossível. Isso sem contar que o monitor havia perdido as
cores e eu usava um de outro aparelho: costumava chamar o conjunto de “meu
Frankenstein”.
Pedi
a minha filha do meio pra vigiar as promoções pra comprar um computador novo
completo. Ela levou uns dias, mas cumpriu a tarefa. Zerei a poupança, comprei
ingredientes prum almoço e juntamos quatro mascarados pra levar a tarefa de
mudar os programas a cabo. E inventei de mudar também o cômodo do escritório: me
pus a descascar, emassar e lixar paredes. Digo que “mudar” pode permitir a “achar
os buracos dos ratos”.
No
dia marcado, eu quase terminei uma das paredes. Carregar livros, descartar lembrancinhas
desmemoriadas e CDS obsoletos, digo, por falta de aparelho pra tocá-los e
montanhas de papeis que perderam totalmente o sentido levou o dia todo. Ainda restam
“coisas” em geral separadas ao longo das paredes, uma delas exibindo gloriosos traços
de massa-corrida.
Quando
a lida maior parou, tranquei a porta de saída depois que os ajudantes partiram
pras próprias rotinas, juntei a louça suja na pia, tomei banho muito quente pra
aliviar o cansaço e me esparramei na cadeirona velha, que preciso consertar,
finalmente, com a intenção de (re)conhecer o lindo aparelho novo. E queria
escrever.
Mas,
quá, na penumbra da noite caindo, não consegui enxergar os sutis traços brancos
sobre teclas negras pra catar letras e símbolos de acentuação: o circunflexo, então,
nem hoje o localizei. Optei por assistir a séries que há algumas começadas. O texto,
escrevi agora de tarde depois que botei ordem em mais alguns móveis e “coisas”.
Terminar a mudança? Ainda demora; e, passar a escrever no teclado novo vai me
custar algumas adaptações. Enquanto isso, vou escrevendo, e consertando os
erros, no computador antigo; paciência, repito comigo enquanto tranço a casa de
cima a baixo: um dia me acostumo.
Ainda
não achei buraco de rato; poeira? Montes: vou domando pequenas partes aqui e
ali. Estranhamente, essa bagunça toda pra mudar me lembra: mudanças em relacionamentos
compensam o “preço” pago? Caso a pensar...
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