É
milenar a filosofia, se é que se pode chamar assim, de o ser humano ter um
comportamento, ou discurso, para quando está na rua e outro para quando está
dentro de casa.
A
primeira coisa que fazemos quando chegamos do mundo lá fora é jogar,
literalmente, os sapatos a um canto e relaxar. Relaxar da organização, das
regras sociais, das convenções, códigos, leis comuns. Em casa, somos os donos,
os imperadores, determinamos nossos destinos, mandamos, comandamos; e ninguém
tem nada com isso.
Há
um ditado que diz que “por detrás da nossa porta...” tudo é permitido. Nada que
fazemos em casa é da conta do vizinho. Em briga de vizinho, faça de conta que não
viu! O mundo lá fora é diferente do que vivemos entre nossas paredes; e nós também
somos.
Ocorre
que são outros tempos, esses que vivemos nas primeiras décadas do século XXI.
Aquele sossego que tínhamos de nos esconder atrás de nossos muros, a ilusão de
imaginar que nossas ações só dizem respeito a nós mesmos, não existem mais. Mesmo
que ainda nos esforcemos para manter a individualidade e a privacidade o mundo
bate ruidosamente a nossa porta; e mesmo a contragosto, somos obrigados a
atender.
Não
são as câmeras de vigilância ou as penalidades por infrações quaisquer que
determinam nosso comportamento no mundo contemporâneo. Não é o medo da punição,
da multa, ou da fofoca do vizinho, o apontar de dedos para nosso lado que nos
impelem a adotar nova filosofia de vida. Nem é porque alguém vai falar mal ou
porque seremos repudiados em qualquer grupo que frequentamos que agora temos que
pensar, e agir, diferentemente, em qualquer lugar.
O
planeta está encolhendo, estamos, a cada dia, mais próximos uns dos outros. E
não só de seres humanos, mas de bichos e mato também. E de sujeiras, esgotos,
lixo, estamos, a todo minuto, mais perto. Tudo se aproxima de nosso quintal,
ultrapassa nossos muros e vem buscar abrigo ao nosso redor: porque não há mais
espaço para distâncias.
O grito do vizinho ecoa na parede onde está
nossa cama. O som da festinha da praça avança pela nossa cozinha e almoçamos
ouvindo funk ecoando entre os talheres. A buzina na rua parece ter sido
acionada da nossa varanda. O telefone toca, ou alguém fala, debaixo de nossa
janela. Do nosso quintal, vemos as flores no jardim alheio ou ouvimos segredos
inimagináveis; que não deveriam ter nada a ver conosco. Só que tem.
O
progresso, a meio caminho, que acredito ainda há muito o que melhorar, trouxe
confortos que já nem paramos mais para analisar. A locomoção, a comunicação, o sem
número de produtos para satisfazer infindáveis vontades são mudanças das quais
nem nos damos conta mais, e que as novas gerações nem sabem que aconteceram.
O
que temos hoje, de estilo de vida, entretanto, pode nos dar conforto, sim, mas
trás também uma responsabilidade que ainda não foi exigida de fato. A aldeia
global, o Planeta Terra, oferece recursos tais que permitem ao homem viver plenamente
gozando de suas capacidades física, mental, social, financeira.
A
vida moderna é uma conquista de muitos, de fato, mas, como disse Saint Exupéry,
“tu te tornas responsável por aquilo que cativas”, logo, todas as conquistas
tem um preço; e saber disso, tomar consciência desse preço é uma realidade da
qual não é mais possível fugir. Esse preço, que não é para o vizinho ou para o
governo pagarem, é responsabilidade nossa: eu, meu vizinho, meu governo; todos
estão no mesmo planeta, todos vão dividir a conta. E o que é mais interessante:
o preço maior ou menor depende de cada um, o que pagar depende do que fizermos,
juntos, pela riqueza natural que nos é dada de bandeja.
Pagar
menos depende de atitudes como prevenção, e para isso basta pensar antes sobre
os impactos de cada ato humano. Depois, é vital cessar o desperdício: no
Brasil, o volume da produção nacional poderia ser 40% maior se não houvesse
desperdício em todos os níveis da cadeia produtiva. Já pensando em Economia,
haveria de ser equânime o uso dos recursos e serviços da natureza para depois
então distribuir os custos por esses serviços.
O
afã de consumir deveria vir atrelado ao afã de cuidar do resíduo, daquilo que
não serve mais; não só o governo, mas também quem fabricou o produto, e quem o
utilizou até não servir mais. Cuidar é para quem se importa, que se mostra, que
dá de si sem esperar as cobranças. Comprar menos é cuidar, consertar é cuidar,
estudar, se indignar, são atos de quem cuida de algo.
Nesse
ano, 2016, a Campanha da Fraternidade da Igreja Católica reza que “Nossa casa
comum: responsabilidade de todos”. A prática do nosso dia a dia mostra isso?
Hum, sei não!
A
vida é boa e temos coisas sem fim para fazê-la melhor ainda; então, cuidemos: da
casa, do quintal, do que compramos, do uso adequado dos objetos, do trato certo
de pessoas e todos os seres vivos. É já passado da hora que comecemos a reaproveitar,
recuperar, reutilizar, e valorizar ao máximo, todas as coisas até o “último
cartucho”, como ensina o Mineirês. Assim, ó, você cuida do “nosso Planeta”?
Você é sustentável? Tomara que sim porque, hoje em dia, o vizinho está de
olho porque não há mais quintais particulares. A vida de todos no
futuro depende de cada um, em particular, mas ao mesmo tempo, mistério, de
todos juntos, e misturados. É que a “casa é comum”, portanto, cuidar dela é obrigação intransferível.
Por
Magda Castro
Brasília/DF,
25/04/2016
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