OUTRO LADO DA PALAVRA ESCRITA OU FALADA, OU O MESMO
Sobre escrever textos se
sabe muitas coisas e uma delas é que tudo que é escrito fica guardado, quem
sabe, atrevidamente, para sempre. Escrevo cotidianos, minúcias, pequenices que
me encantam. Conto de meu canto, dos meus causos, dos meus contos. Nada grandioso
nem visto a olho nu, ou a coração nu, digo melhor. Gosto de escrever sobre o
café da manhã, o almoço, falo da chegada ou da partida, de flores se abrindo,
ah, como gosto de escrever de flores. Gosto de contar histórias, prefiro as
verdadeiras porque não tenho grande imaginação de inventar histórias falsas.
Mas gostaria de escrever o outro Harry Potter, apesar que estava pensando dias
atrás que a literatura tem isso de recriação: textos eternos que muitas vezes
jazem em prateleiras poeirentas são descobertos por alguém com imaginação bastante
criar dali um mundo novo. Acho por isso a literatura eterniza a vida.
Bom demais saber de gente
que viveu há milhares de anos e foi feliz o bastante pra pensar em registrar a
própria história e essa agora está aí encantando, ou desencantando, pessoas de
toda parte. Acho que por isso todos nós podíamos escrever sobre nossas vidas.
Há alguns anos, limpando um guarda-roupas de minha mãe que tinha sido de minha
avó descobri uma folha de papel amarelado. Me surpreendi com a biografia de
minha avó escrita por ela mesma em estilo trôpego escolar. Uai, não era
propriamente biografia já que o texto todo mal ocupava metade da página, mas
trazia os dados de local e data de nascimento, nomes dos pais, nome dos filhos
e endereço da época. Amei ler, guardei a relíquia com carinho e vez ou outra
releio pra me lembrar dos que viveram antes de mim e que por isso vivo hoje.
Então, escrevo dessas desimportâncias até pensando que uma pessoa qualquer no
futuro leria sobre elas.
Escrever, ou contar
histórias, sobre minha vida, estranhamente, me dá a sensação de dizer de um
olhar tão meu e, penso que, talvez, esteja contribuindo ou partilhando
importâncias. Se importante ou não para o que me lê, ou ouve, não sei ao certo,
mas para mim é delícia quando releio o escrito há anos. Isso é o que queria
dizer sobre o valor da palavra escrita: dizem de pequenas histórias sem
importância que se escreve sobre aspecto ou outro sem importância. Ocorre que
relendo meus textos descubro que o valor da desimportância daqueles tempos tem
importância sem medida hoje. Para mim, especialmente, mas quem sabe, importante
também para alguém que esteve entre os personagens daquele tempo tão tão
distante.
Magda Castro
Brasília, DF, 23 de
fevereiro de 2023.
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