sexta-feira, 18 de julho de 2008

O TEMPO DO ADEUS

Penso, muitas vezes, não mais para não enlouquecer, mas nem tão pouco que não entenda o que seja, em adeus. Esse não é coisa que se diz todo dia. Às vezes, não, na verdade, nas muitas vezes em que acontece o adeus nem é falado. Pode também não ser mostrado ou entendido: é porque adeus não é somente a palavra, o aceno, a partida de mala pronta. Adeus é também afastamento invisível e sorrateiro que vai tomando conta do espaço, aumenta distâncias, cava abismos. Nem sempre real, na maioria imperceptível, disfarçado de até logo, até breve ou até amanhã. Entretanto, em geral, o adeus total se percebe num repente, quase como no acordar de um sonho.
É. Pode-se sofrer um adeus e não perceber; acontece o adeus sutil e pode-se não ver. Foi no embalo, na rotina do dia-a-dia, se perdeu o diálogo, se perdeu o interesse e o amor se foi. Foi porque algo foi visto mais longe, uma descoberta se deu de repente, apareceu alguém melhor e o adeus se fez. Primeiro em quem o sentiu e depois em quem o sofreu. Quem o percebe primeiro se cala para não magoar pode até ser que não seja coisa séria afinal foram tantos anos juntos. O novo estímulo não passa, então, é tempo de adeus. Ele acontece primeiro no coração, depois nas palavras caladas, nas opções de viagem, nos novos valores sendo construídos de acordo com os olhos de quem chegou, de quem arrebatou, de quem tomou o espaço sem cuidados.
É isso: os espaços não existem vazios, a energia circula, partículas de vida o preenchem e quem se distrai, perde o lugar. É quem acorda por último que fica. Quem parte, leva novo sonho, outro caminho, o recomeço. Deixa o que não interessa mais, seleciona parcos tesouros, pois basta o próprio coração, agora livre para outro tempo. Quem fica, fica com o adeus e o mesmo caminho, o mesmo travesseiro, o mesmo menu. E os restos: de rostos, de risos, de alma, pedaços de vida. Desses restos é que se deverá refazer, reconstruir, remendar.
Adeus não dói. O que dói é a falta, a mudez, os vazios, a nudez sem charme, a indagação, é não mais fazer parte. Adeus não dói: o que dói é o que ele deixa para trás.

Por Magda R M de Castro
Brasília, DF, 18 de julho de 2008.

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