quinta-feira, 23 de outubro de 2025

 PARA AMANDA

Filha, Flor, cheguei bem; embora não quisesse chegar: preferiria ficar com você curtindo esse canto de encanto onde você mora. Preferiria curtir você, minha caçula encantada. Usaria a desculpa que me apaixonei por São Paulo, ou que estaria ajudando a lavar roupa, ou cozinhar, ou descer com o Connan. Poderia usar tantas desculpas para ficar vendo você acordar todas essas manhãs indecisas; é que eu nunca sei o que fazer com minhas manhãs em São Paulo antes de você acordar. Você, acordando me diria faca isso ou aquilo mãezinha ou me levaria a um lugar bonito, à piscina do prédio, à feira do outro lado da rua, na conveniência lá embaixo. Você me diria o que queria comer; eu com meus dotes culinários limitados daria tratos à bola pra fazer algo gostoso. E mesmo que não fosse você diria delícia. 

Todos os dias de manhã, ou de noite ou em tardes quentes, seriam lindos vendo você se enfiar nesse computador e falar com o mundo todo, ensinar alguém desafinado a cantar, e você riria. melhor, você geralmente gargalha quando fala de sua arte, quando dá dicas únicas ensinando músicas espetaculares. E quando você dá uma palhinha, um traço de música que você cantaria com sua voz divina, o dia estaria salvo, o meu mundo estaria salvo para sempre.

E eu ficaria ali com cara de boba, escondida com o coração feito galope, inchada de orgulho. E meu mundo poderia ser assim para sempre; nada mais a querer. 

Para Amanda que amo sem medida;

Brasília, DF, 23 de outubro de 2025.

TARDE DE CHUVA E CAMARÕES

Combina nadinha, confesso. Camarões combinam com dias incandescentes em beira de mar. Por ora, o que tenho, entretanto, pois cheguei há pouco de viagem, camarões era o que tinha no freezer. Até que o mercado não é longe, mas, o banco tá me mando recado que não é inteligente usar o limite do cheque especial nesses tempos; assim, a comida vai ser camarão com arroz, tomate e banana. 

Inédito almoço, mas delícia mesmo assim. Delícia e sossego na sala quieta com vista para a chuva suave caindo no jardim de inverno. Bom sem tanto ver as folhagens verdejantes de primavera e o som das pedrinhas do Jean dançando ao vento.

é que a primavera chegou, afinal, mesmo que tenha demorado montes.

Brasília, 17 de outubro de 2025.